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O elefante dos répteis: tartarugas-gigantes têm memória excepcional

Lentos e sábios: teste mostra que os bichos – que são cartão-postal de ilhas no Pacífico e no Índico – se lembram de eventos ocorridos até dez anos atrás.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 13 dez 2019, 15h05 - Publicado em 13 dez 2019, 12h09

Tartarugas-gigantes como a da foto acima foram uma das refeições favoritas de marujos até o século 19. Não eram presas fáceis, porque sequer eram presas: não era necessário matá-las durante a captura. Bastava levar uma porção dos bichinhos vivos no navio, e matar um por um antes de preparar o almoço. Bem melhor do que comer carne podre após semanas armazenada sem refrigeração.

Graças a essas e outras, esses répteis gordinhos ganharam a fama de lentos e burros. Mas nem todo navio levava marujos famintos. Alguns carregavam também playboys metidos a fazer trilha. Era o caso do britânico Charles Darwin. Durante a viagem do HMS Beagle, ele percebeu que as tartarugas do arquipélago das Galápagos percorriam longas distâncias entre os locais em que dormiam, comiam e tomavam banho de lama – sinal de que tinham uma memória eficaz em guiá-las diariamente pela geografia das ilhas.

Os próprios tripulantes não eram bobos, e acabavam se afeiçoando aos bichões. Era possível adestrá-los como cachorros para ficarem em um lugar só, sem se mexer.

Há dez anos, Tamar Gutnick, então estudante de mestrado na Universidade Hebraica, começou a trabalhar com as tartarugas gigantes do zoológico de Viena, na Áustria, que vem das Galápagos e também do Atol de Aldabra, no Oceano Índico. “Quando eu conheci as tartarugas, me apaixonei imediatamente por elas”, afirmou Gutnick em comunicado. “Para mim estava claro que elas tinham personalidades distintas – muitas vezes, eram ousadas.”

Para testar a memória das tartarugas, o primeiro passo foi treiná-las para pegar uma bola colorida com a boca. A bola ficava espetada na extremidade de um palito. Depois, a bola era colocada a um ou dois metros de distância do animal, e ele era estimulado a se locomover para mordê-la. Por fim, Gutnick escolheu uma cor de bola diferente para cada tartaruga – e as ensinou a escolher, quando eram oferecidas várias opções, apenas a bola da cor correta.

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Três meses depois, as tartarugas realizaram as duas primeiras tarefas com sucesso. Na terceira tarefa, cinco em cada seis lembraram qual cor deveriam morder mais rápido do que haviam demorado no treinamento original. Sinal de que há pelo menos um resíduo de memória. Algumas tartarugas foram testadas nove anos depois da seção de adestramento e ainda mordiam as bolas com sucesso. Para quem vive mais de 150 anos, nove parece ser fichinha.

 

 

 

 

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