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O Brasil tem capacidade de zerar emissões até 2040. Conheça dois caminhos possíveis.

A conclusão é de um relatório publicado hoje (5) pelo Instituto Amazônia 4.0. Ele propõe alternativas baseadas em reflorestamento e transição energética.

Por Maria Clara Rossini
5 nov 2025, 16h00

O Brasil tem capacidade de atingir a neutralidade de carbono até 2040, dez anos antes do proposto na meta oficial do governo federal. Essa é a conclusão do relatório “Brazil NetZero by 2024”, que contou com a participação de pesquisadores notáveis da área: Mercedes Bustamante (UnB), Carlos Nobre (USP), Nathalia Nascimento (USP), Eduardo Assad (FGV) e Roberto Schaeffer (UFRJ).

O objetivo da pesquisa foi apresentar ao governo brasileiro opções para antecipar a meta de neutralidade, que atualmente está prevista para 2050. Na Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, em novembro de 2024, o presidente Lula convocou as nações desenvolvidas a adiantar os compromissos climáticos em cinco ou dez anos.

Atingir a neutralidade de carbono (ou “Net Zero”) não significa parar completamente de usar combustíveis fósseis. Ela implica uma soma de resultado zero. Todo o carbono emitido por automóveis, casas e indústria brasileiras seria reabsorvido pelas melhores máquinas de limpeza da atmosfera já criadas: as árvores. Dessa forma, é possível frear o aquecimento do planeta. A questão é que, atualmente, nós emitimos mais gases do efeito estufa do que absorvemos.

Existem duas maneiras de mudar isso: intensificar a captura de carbono ou reduzir as emissões. É por esses dois caminhos que o relatório apresenta os planos para atingir a neutralidade até 2040. O primeiro se chama AFOLU – 2040, e foca na redução do desmatamento e mudanças no uso do solo. O segundo é o Energy – 2040, voltado à transição energética.

Esses dois cenários foram simulados utilizando o Brazilian Land Use and Energy System Model (BLUES), um modelo computacional desenvolvido pela UFRJ. Abaixo, conheça os detalhes de cada um deles.

AFOLU – 2040

A prioridade do AFOLU (sigla em inglês para Agricultura, Florestas e Uso do Solo) é atuar no uso do solo. Nessa estratégia, o Brasil deve zerar o desmatamento de todos os biomas até 2030. Ela também prevê a expansão de programas de reflorestamento e restauração, além do estímulo à agricultura regenerativa e ao manejo integrado do solo.

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Alguns exemplos de manejo integrado do solo são as técnicas de plantio direto – em que a palha da safra anterior fornece nutrientes para a nova safra –, sistemas que integram pecuária, agricultura e floresta, rotação de pastagem e agricultura, entre outros. 

O cenário trabalha com objetivos que as metas brasileiras já preveem, como o desmatamento líquido zero. O desmatamento legal pode ocorrer, desde que seja compensado.

Nesse cenário, a restauração de ecossistemas e a implantação de sistemas agroflorestais (que integram a agricultura e o bioma nativo) seriam responsáveis por 87% do total de remoções de carbono até 2040. Essa é a alternativa mais barata: o investimento adicional seria de apenas 1% em relação à meta atual.

A meta de restauração florestal atual é de 12 milhões de hectares. O AFOLU propõe um número superior, de mais de 18 milhões de hectares.

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Já a transição energética ocorreria de forma mais gradual. Usando esta estratégia, os combustíveis fósseis ainda representariam 46% da energia primária em 2040. Esse excesso de carbono, no entanto, seria absorvido pela vegetação restaurada.

O desafio aqui é intensificar a governança ambiental. “Os gargalos estão associados a fiscalização e principalmente punição”, diz Nathalia Nascimento, uma das autoras do estudo. “O IBAMA multa e pune, mas às vezes isso não se consolida na prática. Nós temos um número baixíssimo de multas pagas”.

A pesquisadora também ressalta a importância do incentivo a cadeias produtivas sustentáveis. “Precisamos de uma mudança de modelo de desenvolvimento econômico […] Só a fiscalização não é suficiente. Precisamos criar políticas de incentivo de um novo modo de ver a floresta e a agricultura”.

Energy – 2040

O segundo cenário foca na transição energética. Ela implica uma forte redução do uso do petróleo, além da eletrificação e descarbonização do transporte e da indústria. O plano também propõe a redução da exportação de petróleo e seus derivados. A proposta vai de encontro aos planos do governo federal de explorar petróleo na Foz do Amazonas.

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Com esta estratégia, seria necessário implementar tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) e expandir a produção de biocombustíveis – combustíveis de origem orgânica, e não fóssil. Alguns exemplos são o etanol, feito a partir de cana-de-açúcar, e o biodiesel, produzido com óleo vegetal e gordura animal. 

A proposta é que 64% dos biocombustíveis sejam provenientes da cana-de-açúcar. A vantagem é que a própria produção do biocombustível ajuda na captura de carbono, já que é necessário plantar vegetação para fabricá-lo.

Nesse caso, os combustíveis fósseis representariam apenas 22% da energia primária em 2040. O petróleo seria praticamente eliminado, fechando ou adaptando as refinarias brasileiras que não trabalham com biomassa.

O Energy – 2040 propõe zerar as emissões líquidas de gás carbônico até 2035. A neutralidade de gases do efeito estufa (que também incluem óxido nitroso, metano e ozônio) chegaria em 2040. 

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Devido à instalação de novas tecnologias e infraestrutura, esse projeto demandaria 20% a mais em investimentos em comparação à meta atual. Ele também é mais incerto em relação ao AFOLU, já que envolve a construção de tecnologias que ainda estão em fase de consolidação.

“Se fosse para indicar um cenário, eu indicaria o AFOLU”, diz Nascimento. “O cenário baseado na natureza prevê a preservação e regeneração das florestas, o que contribui para a biodiversidade, serviços ecossistêmicos, aumento da resiliência climática e apoio a populações locais […] Ele é mais amplo em cobenefícios”.

A pesquisa foi conduzida pelo Instituto Amazônia 4.0 e financiada pelo Sequoia Foundation e Rockefeller Brothers Foundation.

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