Nova espécie de macaco é descoberta na Amazônia – e já está ameaçada
O chamado 'sagui-dos-mandurukus' é endêmico de uma região que sofre com a extração ilegal de madeira e a expansão agrícola.
Saguis são macaquinhos receptivos com o homem. Os originais da Mata Atlântica, por exemplo, adaptam-se em várias reservas de mata urbana e uma vez ou outra fazem a alegria de seres humanos curiosos por um bocadinho de natureza.
Mas os amazônicos são diferentes: mais tímidos e menos visíveis. Os últimos registros de saguis provindos de lá foram colhidos por naturalistas e colecionadores profissionais nos séculos 18 e 19. A surpresa foi grande quando o pesquisador Rodrigo Costa Araújo, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, avistou, das lentes de seus binóculos, três saguis com caudas brancas. Todas as espécies já catalogadas da Amazônia até então tinham a cauda preta. Aquele foi o momento em que Araújo percebeu que poderia ter uma nova espécie em mãos.
E realmente tinha: após 10 expedições em áreas próximas a que o trio foi primeiramente avistado, e a coleta de cinco espécimes para análise de DNA (com licença dada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio), a equipe constatou que aquela era uma espécie totalmente nova de sagui, batizada de Mico munduruku, ou sagui-dos-Munduruku, como ficou mais conhecido. O nome “Munduruku” é uma referência aos índios Mundurucus. Segundo os pesquisadores, o sagui é endêmico do sul da Amazônia, desde a margem esquerda do rio Jamanxim até a direita do rio Tapajós – cerca de metade dessa área está dentro da reserva indígena homônima.
Além de ter uma cauda branca, os indivíduos dessa nova linhagem exibem um dorso bege-amarelado, mãos brancas, pés brancos e antebraços brancos com uma mancha bege-amarelada no cotovelo – uma combinação de cores nunca antes avistada em saguis da região.
Apesar da comemoração pela nova descoberta, a localização em que os novos saguis são encontrados preocupa os pesquisadores: a área enfrenta degradação ambiental por conta de extração ilegal de madeira e expansão agrícola. Os planos para construir quatro novas usinas hidrelétricas representam outra ameaça para o único sagui recentemente descoberto naquela floresta.
“As ameaças só aumentarão à medida que as usinas hidrelétricas e os esquemas de infra-estrutura complementares, como estradas e linhas de transmissão, forem concluídos, induzindo assentamentos e redução de florestas mais intensos na região”, escreveram os autores no estudo. Recentemente, a Amazônia tem sofrido baixas recordes: o desmatamento do mês de julho cresceu 278% em relação ao mesmo mês no ano passado.
Os autores do estudo dizem que mais pesquisas são “urgentemente necessárias” para poder identificar o alcance, o tamanho da população e a densidade populacional do sagui-dos-Munduruku, para, assim, bolar um plano de ação e conservação da espécie. O autor da pesquisa, Rodrigo Araújo, também é coordenador de um projeto que visa proteger todos esses primatas da floresta, intitulado Saguis da Amazônia.