Nasa abre amostra lunar intocada da Era Apollo pela primeira vez em 40 anos
Destampar tubinhos coletados pelos últimos humanos na Lua permitirá dissecar o regolito com tecnologia de ponta — e é um esquenta para a nova leva de amostras que vem por aí.
Germes não são bem-vindos dentro de uma instalação da Nasa que fica no Centro Espacial Johnson, em Houston. Há um tesouro guardado a sete chaves no Laboratório de Curadoria Lunar. É ali que ficam boa parte dos 382 quilos de solo e de rochas que os astronautas das missões Apollo trouxeram da Lua, entre 1969 e 1972. Naquele ambiente esterilizado, cientistas realizaram um procedimento que não se fazia há mais de quatro décadas.
Depois de meses de um preparo minucioso, os pesquisadores abriram uma amostra que foi coletada durante a Apollo 17, a última de todas, e permaneceu lacrada desde então. A Nasa quer repetir a dose no início de 2020, quando planeja destampar um segundo tubo virgem de regolito lunar. Assim, mata dois coelhos com uma cajadada só: revela novas descobertas sobre a Lua, e permite que seus especialistas treinem como processar novas amostras.
Com isso em mente, a agência criou a iniciativa ANGSA: sigla em inglês para Análise de Próxima Geração das Amostras Apollo. A ideia é usar as tecnologias mais modernas disponíveis atualmente para dissecar cada grãozinho daquele precioso material — e obter medidas que simplesmente estavam fora de cogitação nos anos 70. A Nasa teve a prudência de manter amostras intactas para serem escrutinadas por tecnologias do futuro.
“A análise dessas amostras vai maximizar o retorno científico da Apollo, além de permitir a uma nova geração de cientistas e de curadores que refinem suas técnicas e de ajudar a preparar futuros exploradores para missões lunares esperadas para os anos 2020 e além”, disse em comunicado Sarah Noble, cientista do projeto ANGSA. Ela se refere, é claro, ao programa Artemis: missões que prometem nos levar de volta à Lua nos próximos anos.
Algumas das tecnologias de ponta que serão usadas no estudo da amostra aberta na última terça (5) são o imageamento 3D não-destrutivo, a espectrometria de massas (que identifica moléculas e caracteriza suas estruturas químicas) e a microtomia de altíssima resolução (que corta “fatias” ultrafinas do material). A possibilidade de “ensaiar” com amostras lunares de verdade deve deixar os cientistas mais preparados para processar amostras da Artemis.
Todo o processo de abertura do tubo chamado oficialmente de 73002 foi cuidadoso em nível quase que cirúrgico. Antes de abrir o recipiente que permaneceu fechado, mas não selado a vácuo, os especialistas o submeteram a uma tomografia computadorizada de raios X, feita por cientistas da Universidade do Texas. Além de mapear o conteúdo a nível granular, a análise também permitiu entender melhor a estrutura geológica da amostra.
Depois disso, será “repartida” e distribuída a vários times de pesquisa do ANGSA. O tubo foi aberto dentro de uma engenhoca, a “caixa de luvas”, lugar que permite não manusear diretamente o material, em um ar de nitrogênio puro. Tudo para evitar contaminação. A próxima amostra, 73001, também é fruto da Apollo 17, mas ficou guardada a vácuo. Será aberta assim que se afiarem os planos para estudar os gases lunares que ela vai soltar.
E o mais bacana tem sido a integração multigeracional das equipes da Nasa, unindo passado, presente e futuro. Especialistas veteranos que participaram ativamente dos primeiros estudos de amostras da Era Apollo estão instruindo os colegas mais jovens sobre como explorar pedacinhos da Lua, desde a fase da coleta até a análise em laboratório.
“Eu cresci ouvindo histórias da Apollo, elas me inspiraram a seguir uma carreira espacial e agora eu tenho a oportunidade de contribuir com os estudos que estão permitindo as próximas missões para a Lua”, disse Charis Krysher, a especialista que destampou o tubo. “Ser a pessoa a abrir uma amostra que não havia sido aberta desde que foi coletada na Lua é uma honra imensa e uma pesada responsabilidade — estamos tocando a história.”