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Marte também tinha estações secas e chuvosas, diz estudo

Entenda por que um regime sazonal pode ser indício de que houve vida no planeta vermelho.

Por Caio César Pereira
9 ago 2023, 18h43

Desde o pouso das sondas Vikings 1 e 2, em 1976, várias missões a Marte tentam entender o seu passado. E a mais recente delas sugere que o planeta vermelho pode ter tido um regime de estações úmidas e secas, iguais às que a gente tem aqui na Terra.

A pesquisa foi conduzida pela Universidade de Toulouse, na França, e publicada na Nature nesta quarta (9). Os cientistas utilizaram imagens captadas pelo rover espacial Curiosity da cratera de Gale, que possui 150 km de diâmetro e que, no passado, foi provavelmente um lago. 

Na cratera, os cientistas encontraram sulcos em formas hexagonais na lama. Segundo os autores da pesquisa, esse padrão só pode ser encontrado em lugares em que haja uma alternância entre períodos secos e molhados. Os sulcos teriam 4 cm de largura e 2 cm de profundidade, o que indicaria uma certa regularidade entre os ciclos. Acredita-se que essa oscilação pode ter ocorrido ao longo de milhões de anos.

E como os sulcos se formaram? Ao que tudo indica, eles eram rachaduras no chão, que foram preenchidas por água e minerais durante o período de chuvas. Ao secar, os minerais se juntaram com a lama e formaram o molde hexagonal. Para William Rapin, líder do estudo, só um clima sazonal de alta frequência geológica como esse pode produzir esse tipo de rachadura.

“É a primeira vez que podemos mostrar que o clima sustentava mudanças hidrológicas sazonalmente, ou seja, estações úmidas e secas. Não tínhamos conhecimento que outros planetas além da Terra também tiveram isso.”

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Por aqui, o fenômeno dos sulcos pode ser observado no Salar de Uyuni, na Bolívia, por exemplo (veja uma imagem dele aqui.) Eles surgiram há 3,6 bilhões de anos – mesma época em que se acredita que a vida na Terra surgiu. E sim: uma coisa pode ter a ver com a outra.

Vamos explicar. Períodos sazonais podem ajudar na formação de moléculas fundamentais para o surgimento de vida. Isso porque os nucleotídeos e aminoácidos (as moléculas que compõem o RNA e as proteínas) precisam de períodos de desidratação para poderem se juntar. 

Seriam então os sulcos uma evidência de que houve vida em Marte?

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Ainda não dá para saber. Mas não faltam lugares para procurar mais pistas. Ao contrário da Terra, o nosso irmão vermelho possui um registro geológico bastante preservado. Estimativas apontam que seu registro sedimentar pode remontar até mais de 4,3 bilhões de anos.

Isso significa que o planeta pode ser um grande laboratório para os estudos sobre a origem da vida. Ainda falta muito a ser feito, mas quem sabe no futuro a gente consiga finalmente responder a pergunta do David Bowie: “Is there life on Mars?”

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