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Mapa indica locais com mais chances de haver disputas por água

Novo levantamento indica que, até 2050, risco de tensões relacionadas à gestão de recursos hídricos pode aumentar 75%

Por Guilherme Eler
Atualizado em 18 out 2018, 16h25 - Publicado em 18 out 2018, 16h20

A demanda global por água, que deve superar o abastecimento em 40% até 2030, já é ameaça real à vida nos grandes centros urbanos. É o que cravou uma pesquisa de 2014, ao analisar as 500 maiores cidades do mundo: uma em cada quatro se encontra em situação de “estresse hídrico”, quando o abastecimento anual fica abaixo dos 1,7 mil m³ por pessoa.

Na Cidade do México, capital mexicana, 20% dos habitantes só recebe água potável algumas horas por semana. Na Cidade do Cabo, África do Sul, os banhos não podem durar mais de 90 segundos e há um limite de água que cada pessoa pode consumir – 50 litros diários. 600 milhões de pessoas sofrem com escassez na Índia, incluindo a capital, Nova Délhi. No país, 21 cidades devem esgotar seus lençóis freáticos em um período de dois anos.

Com o esgotamento das reservas hídricas pelo mundo, a gestão dos recursos passa a preocupar tanto quanto seu uso consciente. O que especialistas temem, agora, é que essa desigualdade na distribuição possa motivar conflitos diplomáticos entre os países.

“Ainda que o uso de recursos hídricos ainda não tenha, por si só, motivado guerras até hoje, problemas quanto ao uso e gestão da água podem dinamizar tensões que já existem, aumentando a instabilidade em certas regiões”, diz um artigo científico, recém-publicado na revista científica Global Environmental Change.

Como forma de identificar as áreas do globo mais propensas a ter mais tensões geopolíticas ou mesmo serem palco de conflitos decorrentes da falta de água, pesquisadores do Centro Comum de Investigação (CCI) da Comissão Europeia, elaboraram o mapa que você vê abaixo.

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Mapa das disputas por água
(European Union/Reprodução)

Para tal, os autores consideraram a história da gestão de recursos hídricos em cada região, como episódios de conflito ou cooperação para o uso de águas em áreas de fronteira.

Além disso, entraram na conta também aspectos naturais – como disponibilidade de água limpa, temperatura, precipitação, efeito estufa – e sociais/econômicos, como demanda humana por água, dependência da agricultura e tendências populacionais.

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Considerando tudo isso, foi possível propor um modelo que prevê a chance de cada país ser o próximo cenário para a série Mad Max, em que água vale tanto quanto gasolina.

Na análise, ficam claras algumas relações: onde há menos água, a chance de que ocorra um problema do tipo é maior. Áreas mais populosas tendem a ter mais problemas, bem como locais que acumulam fatores de estresse ambiental.

A má notícia é que, segundo as tendências mapeadas pelo estudo, rios que já sofrem de estresse hídrico verão sua situação piorar nos próximos anos. É o que já acontece em “hotspots” como o Nilo, no norte da África, na bacia hidrográfica dos rios Ganges-Bramaputra, no Indo, rio do Paquistão, nos históricos Tigre e Eufrates e em rios do estado do Colorado, nos EUA.

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O levantamento estima que o efeito combinado das mudanças climáticas e o crescimento da população pode elevar a 75% a chance de conflitos em águas transfronteiriças até 2050. Para 2100, esse aumento pode atingir a casa dos 95%.

Nem tudo, porém, está perdido, argumenta Fabio Farinosi, pesquisador que liderou o estudo, em um comunicado. “Não significa que cada um desses casos vá terminar em conflito armado. Depende do quão dispostos os países estão a cooperar”.

A análise feita pela pesquisa, afinal, não considera que os humanos, um dia, possam fazer a lição de casa. Caso consigamos dar mais atenção à gestão dos recursos hídricos, diminuir as emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, parte desses conflitos ou tensões podem nunca passar do campo da especulação. “É nesse ponto que nossa pesquisa pode ajudar, sensibilizando sobre os riscos. Dessa forma, pode-se propor soluções com antecedência”, completa Farinosi.

Segundo estimativas da ONU de julho de 2018, temos nada além de dez anos para frear as mudanças climáticas até que os efeitos do aquecimento global, de fato, resultem em um desastre ambiental completo. Não dá para negar que o recado está mais do que dado.

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