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Macacos da Amazônia adotam “sotaque” para se comunicar com outra espécie

Os animais da espécie sagui-da-mão-dourada mudam seus chamados quando estão no mesmo território que o sauim-de-coleira

Por Luisa Costa
Atualizado em 31 Maio 2021, 19h13 - Publicado em 31 Maio 2021, 19h10

Talvez você já tenha adotado um comportamento diferente para se entender melhor com um grupo de pessoas. Seja usar gírias diferentes quando fala com a família ou amigos, ou até pegar um pouco do sotaque local quando visita outro estado.

Parece que nós não somos os únicos a ceder às “pressões sociais”. Uma pesquisa recente mostra que os macacos podem adaptar seus grunhidos para se comunicarem melhor com uma espécie vizinha.

O estudo, realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas, investigou o comportamento de 15 grupos de duas espécies de saguis que vivem na Amazônia brasileira: o sagui-da-mão-dourada (Saguinus midas) e o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) – que está em perigo de extinção.

Sauim-de-coleira
Sauim-de-coleira (CreativeCommons/Reprodução)
Foto de um sagui-de-mãos-amarelas.
Sagui-de-mãos-amarelas (xtrekx/Getty Images)
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Os pesquisadores compararam gravações dos chamados das duas espécies, testando semelhanças entre grupos que vivem juntos ou separados geograficamente. Assim, investigaram grupos em três tipos de local: áreas habitadas exclusivamente pelo sauim-de-coleira; habitadas exclusivamente pelo sagui-da-mão-dourada; e habitadas por ambas as espécies.

O que a equipe notou é que, em territórios compartilhados por ambas as espécies, o sagui-da-mão-amarela mudava seu padrão acústico, emitindo sons muito mais parecidos com os emitidos pelo sauim-de-coleira.

Os pesquisadores propõem uma explicação para o fenômeno. Quando duas espécies estão em uma área compartilhada e são “parentes” próximas (como as duas espécies de sagui), é provável que ocorra uma competição pelo habitat e seus recursos, como os alimentos. “Então, é necessário um chamado que possa ser entendido pela outra espécie para regular as disputas territoriais”, afirma Jacob Dunn, um dos autores do estudo ao jornal The Guardian

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Os humanos desenvolveram uma variedade de idiomas, mas os outros primatas têm alguns “chamados” fixos em seu repertório vocal, usados em diferentes contextos – para alertar sobre a presença de predadores ou fazer propostas de acasalamento a um pretendente, por exemplo. Eles não chegam desenvolver outros tipos de chamado, mas pelo que foi observado no estudo, esses animais podem expressar algumas nuances em seus grunhidos para facilitar a comunicação entre espécies.

“Ele [o sagui-da-mão amarela] pode tornar o chamado mais longo, um pouco mais alto, mais baixo, mais duro ou mais tonal. Eles podem mudar um pouco o ruído, mas essencialmente ainda estão dizendo as mesmas ‘palavras’”, diz Dunn.

Os pesquisadores não puderam concluir por que o sagui-da-mão-amarela é mais adaptativo, enquanto o sauim-de-coleira permanece resistente. Isso será investigado nas próximas pesquisas. Os resultados dos estudos sugerem é que as pressões sociais e ambientais são importantes na formação dos sons emitidos pelos saguis.

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