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Macacos canhotos levam biólogos a repensar hipótese sobre evolução dos destros

Descoberta sobre o langur de Hanuman feita por pesquisadores na Índia contradiz ideia de que primatas terrestres tendem a utilizar mais a mão direita.

Por Caio César Pereira
7 abr 2024, 16h00

Uma das principais teorias sobre o que levou os primatas a terem uma predileção pelo uso da mão direita (pois é, não são só os humanos que costumam ser destros) está em xeque por causa de um macaquinho indiano que usa predominantemente a mão esquerda.

O langur de Hanuman (Semnopithecus entellus), conhecido também como langur-cinzento-das-planícies-do-norte, é um primata nativo da Índia. Esses animais são considerados sagrados e tratados quase como divindades no país. Essa mordomia, somada com o crescimento das cidades, fez com que a espécie tenha praticamente abandonado seu lar nas árvores.

Faz pelo menos 165 anos que esses animais passaram a conviver com os humanos no perímetro urbano, e apenas 9% do seu habitat natural permanece preservado. Eles se alimentam principalmente de comida oferecida pela população, e, em sua grande maioria, são canhotos. 

Isso pode parecer algo trivial, mas pode ser um ponto chave para compreender a origem da tendência do ser humano e de outros primatas terrestres ao uso da mão direita – 70% dos chimpanzés, por exemplo, são destros –, enquanto macacos que vivem pendurados em árvores, em geral, preferem a mão esquerda.

Além dos chimpanzés, os gorilas, babuínos, bonobos e lêmures de cauda anelada são em grande maioria destros. Já espécies arborícolas, como os orangotangos, os macacos de nariz arrebitado de Sichuan e os macacos de Brazza, são canhotas. 

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Uma hipótese popular e bastante debatida diz que os primeiros primatas utilizavam a mão direita para se pendurar e segurar nas árvores, enquanto a esquerda ficava livre para pegar comida ou outros itens úteis. 

Porém, quando algumas espécies desceram para ganhar a vida no chão, a mão direita ficou livre. E como ela já era forte e hábil – afinal, não é brincadeira pular de galho em galho com uma mão só –, ela acabou se estabelecendo com a mão dominante em detrimento da esquerda. 

 

Pesquisadores da Universidade de Calcutá, na Índia, decidiram então testar essa teoria estudando o comportamento urbano do langur de Hanuman. Eles selecionaram 35 langures, entre machos, fêmeas, jovens e adultos, e realizaram cerca de 193 testes de lateralidade.

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De todos os animais estudados, somente 27% apresentaram destreza suficiente para, por exemplo, tirar um pão de dentro de uma garrafa. Porém, ao contrário do que a teoria argumenta, dentre esses 27%, pouco mais da metade (53%), apresentaram uma tendência para o uso da mão esquerda. 

Além disso, a pesquisa mostrou que a preferência pela mão esquerda surgia com o passar da idade. Os mais jovens costumam utilizar as duas mãos sem preferência por um lado específico, enquanto os adultos geralmente são canhotos. 

Apesar dos resultados desafiarem a teoria da origem da destreza manual oriunda da descida das árvores, os pesquisadores do estudo acreditam que uma explicação plausível é, simplesmente, o tempo. 

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Segundo eles, os langures acabaram de descer das árvores e adotar a vida urbana, e por isso, ainda estão geneticamente programados para a utilização da mão esquerda. Pode ser necessário ainda um longo tempo até que a seleção natural comece a dar preferência à mão direita.

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