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Lesma ou escargot? Falar nome da comida em outra língua diminui nojinho

Estudo revela que ficamos mais dispostos a comer pratos exóticos quando lemos seus nomes em uma língua estrangeira.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 fev 2018, 17h15

Quem visita a Islândia pode se sentir tentado a provar um dos pratos mais tradicionais do país: kæstur hákarl. Mas só até descobrir que kæstur significa “fermentado”, e hákarl, “tubarão”. A receita vai assim: depois de pescar o animal, você espreme a carne com pedras para extrair líquidos corporais tóxicos para o ser humano. Feita a secagem, é só pendurar os filés no teto, e deixar eles… bem, apodrecerem.

Muito apetitoso – quem comeu diz que tem cheiro de amônia. Receitas tradicionais de sabor duvidoso não faltam por aí, e um artigo científico revelou porque você, turista, geralmente se dispõe a comê-las: porque você leu o nome delas em uma língua estrangeira. Faz sentido. Afinal, pouca gente lembra de cara de lesmas quando pensa em escargot – a visão de um restaurante caro em Paris é muito mais rápida.

Para testar o efeito, psicólogos da Universidade de Chicago colocaram 30 europeus para experimentar três delícias: água de reúso, carne artificial e biscoitos de inseto. Todos falavam mais de uma língua.

Quando os voluntários foram apresentados à carne artificial em sua língua natal, só 18,3% deles toparam comê-la. Quando o prato vinha descrito em outra língua, porém, a aceitação subiu para 30,3%. O mesmo aconteceu com a água de reúso (de 42,5% para 54,5%) e com os biscoitos de inseto (de 18,2% para 33,9%).

Ou seja: o efeito vale mesmo quando você sabe a língua em que o nome escrito. Sua tendência a comer kæstur hákarl ainda seria maior se você lesse “fermented shark” em vez de “tubarão fermentado”.

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A ideia da pesquisa não é sacanear ninguém a toa, e sim descobrir bons jeitos de manipular nossa mente a favor do consumo consciente. Os três itens citados são bem mais sustentáveis que suas versões comuns, e poderiam resolver problemas socioambientais graves se as pessoas não se negassem a comê-los por pura aflição.

“Você pode usar a linguagem para reduzir o nojo associado a produtos que são rejeitados pela população”, afirmou em comunicado Janet Geipel, líder do estudo. “A língua nativa tem mais ressonância emocional que a estrangeira, porque é usada com mais frequência, em contextos mais emotivos. Ao usá-la, você tira um pouco da carga emocional associada a palavras como ‘insetos'”

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