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Há mil anos, humanos já domesticavam peixes betta

Pesquisadores analisaram como esses animais adquiriram cores e formas tão características ao longo do tempo. Conheça a trajetória deles.

Por Luisa Costa
Atualizado em 6 set 2021, 10h47 - Publicado em 14 Maio 2021, 19h27

Peixes betta são bonitos. Muito bonitos. Longas (e esvoaçantes) nadadeiras, escamas coloridas… Mas não foi sempre assim. Cerca de mil anos atrás, os humanos passaram a domesticar esses animais e, pouco a pouco, eles adquiriram tais características.

É o que sugere uma recente pesquisa conduzida pela Universidade de Columbia, nos EUA. Segundo os cientistas, a domesticação dos bettas, uma das mais antigas com peixes de que se tem notícia, gerou mudanças genéticas ao longo de diversas gerações da espécie – dando origem à atual diversidade dos peixinhos que povoam aquários mundo afora. 

Breve história do peixe betta

Existem 73 espécies de bettas, todas originárias do Sudeste Asiático. Os bichinhos vendidos em pet shops pertencem à espécie Betta splendens, que possui tanto peixes selvagens quanto os domesticados. E eles são bastante diferentes entre si.

Para começar, as variedades domésticas (ou ornamentais) costumam ser muito mais coloridas e apresentam nadadeiras marcantes. Já as selvagens têm nadadeiras curtas e coloração discreta e opaca, que se confunde com o meio ambiente – a camuflagem é necessária para sobreviver na natureza.

Além disso, os bettas selvagens são muito menos agressivos. Se você já teve um betta doméstico em casa, conhece o esquema: não é recomendável que dois machos fiquem juntos no mesmo aquário – eles podem se atacar até a morte. Não à toa, o betta também é conhecido como peixe-de-briga-siamês. 

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Todas essas diferenças parecem ter sido causadas pela domesticação. O comportamento agressivo do betta doméstico ocorre porque, inicialmente, eles eram treinados para lutar entre si, como numa rinha de galo – no caso, rinha de peixe. Pesquisas anteriores já sugeriam que esse condicionamento começou no século 13, mas o novo estudo sugere que ele é ainda mais antigo.

Já a diferença ornamental se intensificou no século 19, quando os bettas se popularizaram no Ocidente. Os criadores, então, passaram a testar cada vez mais cruzamentos entre variedades, o que resultou em cores e formatos de cauda diversos. “Os bettas são o equivalente aquático da domesticação que aconteceu com os cães”, explicou ao The New York Times Young Mi Kwon, pesquisadora da Universidade de Columbia e autora principal do estudo.

Comparando DNAs

Para a pesquisa, Kwon e sua equipe compararam o genoma de um Betta splendens selvagem com os códigos genéticos sequenciados de vários indivíduos de cinco variedades da espécie (tanto ornamentais domesticados quanto outros selvagens).

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Os cientistas identificaram que boa parte do que é almejado pela domesticação humana (cor e formato da cauda diferentões, por exemplo) é regulado por um conjunto pequeno de genes. Ou seja: para mexer em tais características, não é necessário um grande número de cruzamentos. É por isso que vários peixinhos surgiram num intervalo de algumas centenas de anos.

Além disso, os pesquisadores também perceberam algo curioso. Alguns bettas selvagens apresentaram características “emprestadas” dos domesticados – o que sugere cruzamentos entre eles, fruto de possíveis liberações de bettas domésticos na natureza. 

Só que isso não é bom. Afinal, os bettas domésticos são brigões e não gostam de dividir espaço. Ao se deparar com bettas selvagens, que levam uma vida mais mansa, eles podem dominar populações inteiras. Muitas espécies de bettas selvagens já estão ameaçadas de extinção por conta da perda de habitat.

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