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Gigantesco telescópio chinês está prestes a entrar em operação

O FAST tem meio quilômetro de abertura e é o maior observatório do mundo — seus estudos prometem contribuições decisivas em diversas áreas da astronomia.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 25 set 2019, 18h14 - Publicado em 25 set 2019, 18h13

No fundo de um vale perdido, cercada por um mar de montículos pouco salientes em uma parte remota da província de Guizhou, no sul da China, os chineses construíram uma estrutura científica monumental. É um gigantesco prato metálico com meio quilômetro de diâmetro, formado por 4,4 mil painéis de alumínio móveis para focar em diferentes partes do céu. O FAST é um monstro da radioastronomia — e está em vias de começar a funcionar.

Pronto desde 2016, o projeto colossal custou ao governo chinês US$ 171 milhões. De lá para cá, passou por testes preliminares aos quais apenas cientistas chineses tiveram acesso. Agora, depois de passar em importantes avaliações técnicas e de performance, espera-se que as autoridades deem o sinal verde para o início das operações a todo vapor já em outubro. E astrônomos de outros países poderão solicitar tempo de observação.

FAST é a sigla em inglês para Radiotelescópio Esférico com Abertura de 500 Metros. Ele desbancou o Observatório de Arecibo, em Porto Rico, que por mais de cinco décadas deteve o título de maior radiotelescópio fixo do mundo, com seus 305 metros de diâmetro. Com o novo instrumento e sua sensibilidade excepcional, os astrônomos terão acesso a dados até então inacessíveis sobre diversos objetos no Universo.

Radiotelescópios têm formato de antena parabólica e não servem para detectar radiação eletromagnética no espectro visível – isto é, luz. Eles pegam ondas bem mais longas, de baixa energia, no mesmo comprimento das ondas usadas pelos rádios e a TV aberta – mas que são emitidas por fenômenos astronômicos distantes.

Uma das áreas que mais devem se beneficiar é o estudo das misteriosas rajadas rápidas de rádio. Esses pulsos fortíssimos e efêmeros que vêm do espaço ainda não são bem compreendidos pela ciência. Por isso, sempre que aparecem, os jornalistas mais entusiasmados já pensam que são obra de ETs – uma hipótese muito improvável. Entre agosto e setembro, o FAST detectou centenas de rajadas de uma fonte que é fraca demais para telescópios menores.

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Sua resolução é muito boa, mas ele só consegue cobrir um pedacinho do céu por vez. As chances de descobrir novos eventos desse tipo são mínimas — mas ele é ótimo para fazer um acompanhamento mais aprofundado e cheio de detalhes de coisas interessantes que já foram reveladas por outros observatórios. Outro campo que promete se dar bem com o FAST são as pesquisas de pulsares. Mais de cem deles foram descobertos só no período de teste.

De tão sensível, o radiotelescópio deve ser capaz de localizar esses núcleos giratórios de estrelas mortas mesmo em outras galáxias, algo impossível com a tecnologia anterior. Os pesquisadores esperam até conseguir captar sinais de rádio de ondas gravitacionais enquanto elas viajam pela Via Láctea. O FAST é tão poderoso que pode detectar emissões de rádio de exoplanetas — tem tudo para ser o primeiro a descobri-los dessa forma.

Diante de tamanho potencial científico, é de se imaginar que os pesquisadores estejam disputando a tapa uma posição no observatório, certo? Não é bem assim. A localização remota desencoraja o interesse dos cientistas. Para contornar o problema, o governo está investindo US$ 23 milhões em um novo centro de processamento de dados na capital da província, Guiyang, cidade com 4,3 milhões de habitantes. Afinal, astrônomo não é eremita.

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