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Furacões estão ficando fortes demais para nossas escalas de medida

Uma dupla de cientistas defende que a categoria máxima atual não representa o nível de destruição dos novos, e mais fortes, furacões. 

Por Leo Caparroz
6 fev 2024, 19h03

Um trabalho importante da meteorologia é antecipar fenômenos climáticos – especialmente aqueles que podem ser ameaças à população. No caso de furacões, existe uma classificação para estimar possíveis danos materiais que ele pode causar: a escala de furacões Saffir-Simpson. Ela avalia a força de um furacão de 1 a 5, com base na velocidade sustentada de seus ventos.

De 119 a 153 km/h, um furacão é considerado de “categoria 1”. São ventos perigosos, que vão causar alguns danos: quebrar galhos grandes de árvores, arrancar árvores de raízes superficiais do chão, danificar alguns telhados, e causar quedas de energia por alguns dias.

De 252 km/h para cima são os furacões mais perigosos, os de “categoria 5”. Os danos são catastróficos, causando destruição completa de casas, quedas de árvores e falhas de energia que duram por meses. A área afetada pode ficar inabitável por semanas ou meses.

Graças ao aquecimento global, essa categorização pode estar ficando obsoleta. Uma dupla de pesquisadores defende a criação de novas categorias na escala, a fim de englobar a intensificação recente das tempestades causadas pelo aquecimento do planeta. Sua pesquisa foi publicada no periódico PNAS.

Na última década, cinco furacões registraram velocidades de vento tão altas que, segundo os autores, deveriam ter sido classificadas como tempestades de “categoria 6” – e, se a emissão de poluentes continuar no ritmo atual, o planeta pode aquecer tanto a ponto de termos tempestades de “categoria 7”. 

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Por causa do jeito que a escala Saffir-Simpson funciona, não existem furacões de categoria 6 ou categoria 7 – tudo acima dos 252 km/h é categoria 5. Segundo a dupla, essa classificação atual falha em transmitir os riscos representados pelas tempestades mais fortes. Eles defendem que a categoria 5 deveria ir de 252 km/h até 309 km/h, e tudo acima disso deveria entrar na categoria 6.

Por que os furacões estão ficando mais fortes?

À medida que o clima muda, os furacões e tempestades tropicais ficam cada vez mais fortes. Os furacões se formam no meio dos oceanos, em regiões de água quente, pouco vento e ar úmido. A evaporação por lá é intensa: a água do mar esquenta, vira vapor e forma nuvens. 

No local em que a água evapora, a pressão do ar fica mais baixa. Isso faz o ar se deslocar dos arredores, onde a pressão é maior, para o centro do furacão. Esse ar vem cheio de umidade, que evapora e aumenta o furacão.

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Conforme o planeta retém mais calor, os oceanos também ficam mais quentes – e cerca de 90% desse calor extra fica guardado nos mares. Com a temperatura das águas subindo, a intensidade da evaporação inicial também aumenta, o que deixa os furacões mais fortes do que meras tempestades.

(Tempestades tropicais são aquelas que têm ventos com menos de 119 km/h. Acima disso, elas são chamadas furacão, ciclone ou tufão, dependendo de qual oceano ocorrem).

De fato, as tempestades estão ficando mais fortes: dos 197 ciclones tropicais classificados como categoria 5 entre 1980 e 2021, metade ocorreu nos últimos 17 anos, e os cinco com maiores velocidades ocorreram nos últimos 9.

Se a escala de furacões Saffir-Simpson fosse ampliada para classificar as tempestades com velocidades de vento superiores a 309 km/h como categoria 6, essas cinco recordistas cairiam todas nesse balaio: o tufão Haiyan em 2013, o furacão Patricia em 2015, o tufão Meranti em 2016, o tufão Goni em 2020 e o tufão Surigae em 2021.

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Contudo, sua pesquisa não é uma proposta formal de adoção de uma nova categoria. Segundo eles, uma escala de destruição baseada só na velocidade do vento já é falha, para começo de conversa – outros fatores, como enchentes e tempestades, podem ser uma ameaça maior para a população.

Eles acreditam que é necessário um sistema novo, que faça melhor a relação entre uma tempestade e sua capacidade de devastação. Eles dão o exemplo do furacão Ike que, em 2008, causou grandes estragos e inundações. Quando chegou na costa dos EUA, ele era de categoria 1, mas evoluiu rapidamente para categoria 4.

Os danos causados pelo vento aumentam exponencialmente com a sua velocidade; o que significa que, teoricamente, uma tempestade de “categoria 6” com vento de 314 km/h causaria quatro vezes mais danos do que uma tempestade de categoria 5, com ventos de 257 km/h.

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