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Fóssil sugere que humanos habitam a América há mais tempo do que se sabia

Cientistas afirmam que osso de tatu encontrado na Argentina foi refeição de sapiens há 21 mil anos.

Por Bela Lobato
Atualizado em 19 jul 2024, 19h06 - Publicado em 19 jul 2024, 12h00
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  • Fotografia de ossos em cima de uma mesa.
     (Museo Ciencias Naturales de la Universidad Nacional de La Plata/Reprodução)

    Para você, podem ser apenas risquinhos em um pedaço de osso. Para esses cientistas, é a evidência mais antiga de habitação humana na América do Sul já encontrada, com aproximadamente 21 mil anos.

    Nas margens do Rio Reconquista, próximo a Buenos Aires, na Argentina, pesquisadores encontraram restos fossilizados de um gliptodonte. Esse parente pré-histórico do tatu viveu na região por mais de 30 milhões de anos e acabou extinto no final da Era do Gelo, cerca de 10 mil anos atrás.

    Segundo cientistas argentinos, as marcas nos ossos não se parecem com as deixadas por nenhum animal carnívoro ou roedor, mas são iguais às tipicamente encontradas nos ossos de animais consumidos por caçadores-coletores nos tempos antigos. Para definir a quanto tempo foi esse jantar, os pesquisadores analisaram o solo onde o fóssil foi coletado. 

    “O gliptodonte foi encontrado na camada ou estrato mais antigo, ou seja, na base das margens do rio. Em comparação com estudos geológicos anteriores na área, ele foi encontrado no último máximo glacial do Pleistoceno, cerca de 21 mil anos atrás”, explica Martín de Los Reyes, paleontólogo e coautor de um estudo que descreve o achado.

    Além disso, a datação por radiocarbono do espécime e dos sedimentos, a análise química dos sedimentos, a digitalização 3D de alta resolução e análise quantitativa das marcas também confirmaram a idade do osso.

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    Fotografia de dois homens analisando ossos em cima de uma mesa.
    (Museo Ciencias Naturales de la Universidad Nacional de La Plata/Reprodução)

    O estudo foi publicado nesta quarta (17) na revista PLOS, e contribui para uma discussão longa e polêmica sobre a história da ocupação humana nas Américas.

    É preciso voltar no tempo para entender a confusão: o Homo sapiens surgiu na África entre 200 mil e 300 mil anos atrás. De lá, espalhou-se pela Europa e Ásia. Há 60 mil anos, nossa espécie atingia a Austrália. Depois, as teorias mais aceitas defendem que os humanos passaram da Ásia para a América do Norte pelo Estreito de Bering, que era terra seca durante a última era do gelo.

    E é aqui que a arqueologia chega aos homens de Clóvis – por muito tempo considerados o povo mais antigo da América. Nos anos 1920, nas cidades americanas de Folsom e Clóvis, no Novo México, foram encontradas pontas de lanças ao lado de fósseis de animais de grande porte. Eram armas humanas de 13 mil a 13.500 anos de idade, que comprovavam, pela primeira vez, a presença de humanos na América em plena Era Glacial. Daí surgiu a teoria “Clovis First”, segundo a qual todo e qualquer outro grupo humano que habitou o continente teria vindo, necessariamente, depois deles.

    Nas últimas décadas, porém, a primazia de Clóvis tem sido fortemente contestada entre os cientistas. Hoje, há vários sítios mais antigos ao longo do continente: na Venezuela, no Peru, no Brasil, na Argentina e nos próprios EUA. Mesmo assim, muitos arqueólogos, principalmente norte-americanos e europeus, ainda duvidam dessas descobertas, citando, por exemplo, limitações nas datações ou análises dessas novas descobertas.

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    (Se você quiser se aprofundar, a reportagem Serra da Capivara: um paraíso (quase) escondido, publicada em 2019 na Super, explica essa polêmica em detalhes, a partir dos achados arqueológicos na Serra da Capivara, no Piauí.)

    “Há uma visão tradicional que diz que essas descobertas são anomalias, que não está claro como elas surgiram, mas há um número crescente de estudos muito sérios publicados nas revistas científicas de maior prestígio, que colocam a primeira entrada entre 20 e 30 mil anos atrás”, Miguel Delgado, professor de antropologia da Universidade Nacional de La Plata e coautor do estudo.

    O fóssil do tatu, portanto, é mais uma evidência para quem defende que os humanos chegaram por aqui há mais tempo do que se pensava. Aguardemos os próximos capítulos para ter respostas mais definitivas.

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