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Fóssil de mosquito indica que malária existe desde a época dos dinossauros

Ancestral do mosquito Anopheles pode oferecer pistas sobre os primórdios da doença – que atinge 400 mil pessoas no mundo, a cada ano

Por Ingrid Luisa
12 fev 2019, 19h24

Cientistas da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, descobriram um mosquito de 100 milhões de anos perfeitamente preservado, no Myanmar. Naquela época, durante o período Cretáceo, os dinossauros ainda vagavam pelo planeta. Mas não, os pesquisadores não vão usar o sangue preso dentro do mosquito para ressuscitar os dinos. O que eles pretendem é estudar como esse mosquito pode ter sido a chave para a proliferação da malária.

Hoje, a doença tropical é considerada endêmica em várias partes do mundo e mata mais de 400 mil pessoas a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O seu principal vetor é o Anopheles – o famosos mosquito-prego, como é conhecido no Brasil – e ela é causada por protozoários pertencentes ao gênero Plasmodium.

O parasita é transmitido quando mosquitos fêmeas infectados picam seres humanos e animais para se alimentarem de seu sangue. A OMS estima que quase metade da população humana do mundo está em risco de contrair malária. A infecção é tratável, mas ainda não há uma vacina, por isso medidas preventivas incluem inseticidas e mosquiteiros.

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Áreas afetadas pela malária. Fonte: Centers of Disease Control and Prevention (CDC), 2018 (CDC/Reprodução)

A equipe de pesquisadores americanos, embora tenha confirmado que o mosquito primitivo é de outro gênero e espécie (Priscoculex burmanicus), afirma que ele apresenta várias semelhanças com o Anopheles – e que pode ter sido um ancestral do atual transmissor da malária.

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O P. burmanicus e os mosquitos anofelinos de hoje têm as veias das asas, antenas, abdômen e probóscide (sua boca longa e sugadora de sangue) praticamente iguais. De acordo com os cientistas, como a nova espécie aparenta ser uma linhagem inicial do vetor de hoje, isso pode significar que os mosquitinhos do Cretáceo carregavam a malária há 100 milhões de anos. “Mosquitos poderiam ter espalhado a doença na época, mas ainda é uma questão em aberto”, disse George Poinar Jr, autor do estudo.

Ainda segundo o pesquisador, é possível que esses insetos tenham afetado os dinossauros com a doença. “Houve eventos catastróficos nessa época, como impactos de asteroides, mudanças climáticas e fluxos de lava, mas está claro que os dinossauros declinaram e lentamente se extinguiram ao longo de milhares de anos, o que sugere que outras questões também influenciaram na extinção”

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Mosquito com 100 milhões de anos (OSU College of Science/Reprodução)
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E isso realmente pode ter acontecido, já que a idade da malária está em aberto para a ciência. Poinar foi o primeiro a descobrir a enfermidade em um mosquito de 15 a 20 milhões de anos na República Dominicana – e esse foi o primeiro registro fóssil do Plasmodium. A primeira detecção em humanos foi na China em 2.700 a.C. – e alguns pesquisadores dizem que a doença pode ter contribuído até para a queda do Império Romano.

O novo estudo também fala sobre como os mosquitos Anopheles se espalharam pelo planeta. Como mostra o mapa acima, eles são encontrados em praticamente todo o mundo. Os pesquisadores observam que seus ancestrais poderiam ter se difundido pela Gondwana, um antigo supercontinente que depois se dividiu no que hoje são África, América do Sul, Madagascar, Índia, Austrália, Antártica e Arábia.

Segundo Poinar, entender a história antiga da malária e de seu vetor oferece pistas sobre como evoluiu o ciclo de vida moderno do parasita e como podemos interromper a transmissão da doença.

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