Tânia Marques
Foi por pouco. O Rio Grande do Sul estava quase livre da febre aftosa. Tinha passado dez anos sem registrar um único caso. Quando, em agosto de 2000, surgiu um foco no município gaúcho de Jóia, restou a torcida para que fosse só um fato isolado. O Estado já tinha até parado há um ano de vacinar seu gado contra o mal – condição para ganhar o status de “ área livre da aftosa sem vacinação”, conferido pela Escritório Internacional de Epizootias, com sede em Paris. Se ganhasse esse selo, o Rio Grande do Sul poderia exportar para países exigentes quanto à qualidade da carne, como Estados Unidos e Japão. Os produtores já estavam até ouvindo o tilintar das máquinas registradoras.
Mas, no começo de maio, foi tudo por água abaixo. Começaram a surgir casos da doença nas regiões de Santana do Livramento e Alegrete, perto da fronteira uruguaia. De repente, havia oito focos de aftosa no Estado. Os produtores não só perderam o certificado francês como passaram a sofrer restrições de vários outros países, inclusive da União Européia. A febre aftosa voltou… E com tudo.
O governo se apressou em tentar parar a doença, que é altamente contagiosa. Ela se espalha não só pela carne e por seus produtos, como os ossos e o leite, mas também pelo ar – até uma sola de sapato pode dar uma carona para o vírus de uma fazenda para outra. O único jeito de evitar que ela tome o rebanho do Estado inteiro é matando todo e qualquer animal num raio de 25 quilômetros de cada foco. Até o final do mês, o número de bovinos mortos ultrapassava o meio milhar, e, com certeza, não vai parar por aí.
O mais triste é que todas essas mortes servem apenas para evitar prejuízos maiores. A doença, ao contrário do mal da vaca louca, não é muito perigosa. Apenas 5% dos animais adultos contaminados morrem – os outros sofrem por algum tempo apenas com feridas na boca e nos pés, febre e anorexia, e depois saram. Mas mesmo esses têm que ser sacrificados, para evitar que transportem o vírus por mais tempo.
O pior é que não são só as vacas que correm perigo. “Nossa maior preocupação é que o rebanho suíno acabe contaminado”, diz Paulo Lourenço da Silva, diretor do Departamento de Defesa Animal do Ministério da Agricultura. É que os rebanhos bovinos do Sul não são assim tão importantes para o Brasil – só 16% da produção nacional está naqueles três Estados. Já os suínos sulistas são fundamentais para nossa economia. Rio Grande do Sul e Santa Catarina concentram 28% da produção nacional e mais de 80% das exportações. Se a aftosa chegar aos porcos, aí sim a vaca vai pro brejo.