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Expedição encontra 195 mil novos tipos de vírus nos oceanos

Variedade de organismos é quase 12 vezes maior do que se imaginava até então.

Por Guilherme Eler
26 abr 2019, 19h00

Quando você engole água do mar, o gostinho salgado que fica na garganta é apenas parte do problema. Junto do shot de sal marinho, você acaba mandando para dentro uma série de coisas indesejáveis – uma quantidade gigantesca de microrganismos que vivem no oceano, por exemplo, como a SUPER já contou neste texto aqui. O que os olhos não veem o coração não sente (o sistema imunológico, já é outra história…). Ainda assim, os números impressionam. Há uma quantidade maior de vírus em um litro de água do mar do que de seres humanos habitando o planeta.

O banquete de vírus dos oceanos tem uma variedade considerável. Em 2016, pesquisadores haviam estimado que existiam pelo menos 15 mil tipos diferentes nadando pelos sete mares. Este número, porém, foi atualizado recentemente. Um estudo publicado na revista científica Cell estima que existem, na verdade, mais de 195 mil populações de vírus – uma quantidade quase 12 vezes maior do que se supunha três anos antes.

Os dados são resultado de uma expedição científica que durou quatro anos. Entre 2009 e 2013, um grupo de pesquisadores de vários países fez a circunavegação da Terra à bordo de um barco chamado Tara. A ideia era recolher amostras e mapear a quantidade de vírus nos oceanos terrestres. Foram recolhidas, ao todo, 145 amostras em cerca de 80 pontos diferentes dos cinco oceanos.

Como você pode imaginar, eles não dão as caras apenas na beirada da praia: vírus estão em todos os cantos, do polo Norte ao polo Sul, e a até 4 mil metros de profundidade. Apesar das áreas mais próximas ao Equador normalmente contarem com uma biodiversidade maior, outra região roubou a atenção no caso dos vírus: a do Ártico, onde foram coletadas 41 amostras. Cerca de 40% das variedades desconhecidas até agora viviam nessa região gelada.

Ainda que nem todos eles sejam nocivos para os humanos, eles fazem diferença nos ambientes marinhos. Além de infectar animais, como baleias e crustáceos, eles também estão envolvidos em um papel ambiental importante: eliminar o gás carbônico da atmosfera. Estudos anteriores confirmaram que vírus marinhos ajudam a transportar o CO2 da superfície para as profundezas, ajudando a manter o gás de efeito estufa afastado da atmosfera.

“Há cerca de 20 anos, aprendemos que metade do oxigênio que a humanidade respira existe graça aos organismos marinhos”, disse Matthew Sullivan, pesquisador da Universidade do Estado de Ohio, nos EUA, que participou do estudo, em um comunicado. “Mas, além disso, os oceanos também absorvem metade do dióxido de carbono que existe na atmosfera”.

Se existe outro universo inexplorado de tipos de vírus a serem descobertos? É provável que não. Segundo Sullivan, há mais chances de que o número de populações conhecidas se mantenha estável, “pelo menos até que surjam novos ambientes com pressões seletivas totalmente diferentes”, disse, em entrevista à Quanta Magazine.

Ao invés de falar em novas espécies, os pesquisadores preferem utilizar o termo “populações virais” na hora de caracterizar grupos de vírus desconhecidos. Isso acontece por conta da facilidade que organismos do tipo possuem de absorver características genéticas, se diferenciando dos vizinhos. Por não contarem com mecanismos para se reproduzir fora de um hospedeiro, alguns pesquisadores não consideram sequer que eles sejam seres vivos. Não que isso os impeça de colonizar o planeta inteiro, é claro.

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