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Estudo propõe nova teoria para origem da água na Terra

Cientistas encontram indícios de que a água já estava presente nas primeiras rochas que formaram a Terra – contrariando a ideia de que ela teria sido trazida ao planeta por cometas e meteoritos

Por Bruno Carbinatto
31 ago 2020, 19h26

A Terra é o único planeta conhecido que possui água líquida em sua superfície. Não só isso: ela cobre 70% de todo o globo. Sem ela, a vida não existiria. Mas mesmo havendo importância vital para os organismos, a origem da água em nosso mundo ainda não é totalmente compreendida entre a comunidade científica. Um novo estudo, porém, reacendeu o debate ao propor que a água já estava por aqui bem antes do que se imaginava.

De acordo com os modelos de formação planetária mais aceitos, a Terra provavelmente era seca quando se formou, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Isso porque nosso planeta está muito perto do Sol, que, na época, era ainda mais potente do que é hoje. Assim, as rochas e a poeira que começaram a dar forma à Terra não poderiam conter gelo em sua composição, e, portanto, o mundo seria árido em suas etapas iniciais.

A água só chegaria à Terra depois, por meio de meteoritos contendo H2O ou cometas feitos de gelo. Segundo a concepção mais bem estabelecida, esses corpos teriam se formado bem longe daqui, em locais mais frios, e trouxeram a substância para nossa superfície quando a temperatura no planeta já estava mais amena.

Em um novo estudo, porém, cientistas franceses argumentam que há evidências para se afirmar que a água já existia na Terra desde sua formação. Publicado na revista Science, o artigo estuda a composição dos chamados condritos de enstatita ou condritos tipo E, um tipo de meteorito bem raro. Acredita-se que esses condritos fizeram parte das primeiras rochas que formaram a Terra, já que sua composição é parecida com a do nosso manto terrestre e, diferente de outros meteoritos, eles se originam em áreas mais próximas ao Sol. Exatamente por isso, também acreditava-se que eles seriam quentes e secos.

 

 

Analisando um grupo de 13 condritos do tipo E, porém, os cientistas do Centre de Recherches Pétrographiques et Géochimiques da Universidade de Lorraine encontraram algo impressionante: esses meteoritos têm uma altíssima quantidade de hidrogênio, o que indica que eles possam ter contribuído com água logo no inicio da formação planetária. Na verdade, se construíssemos um planeta do tamanho da Terra apenas com esse material, ele teria três vezes a quantidade de água que temos atualmente em nossos oceanos, segundo a equipe.

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Mas não para por aí: os pesquisadores analisaram isótopos do hidrogênio encontrado, que nada mais são do que versões do mesmo elemento químico, mas com diferentes números de nêutrons. A equipe chegou à conclusão de que os isótopos do elemento presente em nosso manto são muito parecidos com os dos condritos, o que reforça ainda mais a ideia de que esses “tijolinhos” da Terra primordial tenham originado a água do nosso planeta.

Além do artigo, a revista Science publicou um outro texto complementar analisando as descobertas, assinado pela cientista Anne H. Peslier, da Nasa, que não participou do estudo. Em sua análise, Peslier elogia o estudo e diz que essa nova teoria é simples e satisfatória, mas lembra que, mesmo que a água já estivesse presente no material que formou nosso planeta, cometas e meteoritos ainda provavelmente devem ter trazido água de outras origens para a Terra mais tarde. A equipe do novo estudo concorda, e chega a estimar, de acordo com análises de composição isotópica, que os oceanos atuais são 95% água primordial e 5% de água trazida por esses objetos celestes.

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