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Estudo genético liga cães-guaxinins à possível origem do coronavírus

Nova análise encontrou o material genético do Sars-Cov-2 e do animal silvestre em amostra coletada em Wuhan. Descoberta reacende o debate sobre a origem do vírus.

Por Maria Clara Rossini
21 mar 2023, 16h57

Morcegos e pangolins já foram apontados como possíveis fontes ou hospedeiros intermediários do vírus Sars-Cov-2, causador da covid-19. A hipótese de vazamento de laboratório como possível origem do coronavírus também não é descartada. Mas o fato é que, mesmo após três anos desde o início da pandemia, ninguém sabe ao certo como o vírus surgiu.

Um estudo genético disponibilizado ontem (20) corrobora a teoria de que o vírus teve origem em animais. Mas adiciona um novo personagem ao jogo: o cão-guaxinim, um mamífero nativo da China. Os resultados foram apresentados ao Scientific Advisory Group for the Origins of Novel Pathogens (SAGO), um grupo de especialistas que analisa a origem de novos patógenos, criado pela OMS em 2022.

A pesquisa remonta ao mercado de frutos do mar (wet market) de Wuhan, ao qual estavam relacionados os primeiros casos de covid-19. O estabelecimento foi fechado no dia 1 de janeiro de 2020. Amostras coletadas no local nos meses seguintes após seu fechamento revelaram a presença de material genético do Sars-Cov-2. Até aí, nenhuma novidade.

Esses dados genéticos foram disponibilizados por pesquisadores chineses na plataforma GISAID, um banco de dados de virologia, mas em seguida foram retirados do ar. Um grupo internacional de cientistas teve acesso às informações antes de serem removidas – e identificou, também, DNA do cão-guaxinim associados às amostras do mercado. 

Assim como os morcegos, acredita-se que esse animal seja um reservatório de vírus causadores de doenças respiratórias, como os coronavírus. A presença do Sars-Cov-2 e do DNA do cão-guaxinim na mesma amostra mostra que os dois estavam em áreas bem próximas – o que abre a possibilidade de que o animal estivesse infectado com o vírus.

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Omissão de dados

Bom, se as amostras foram coletadas no início de 2020, por que o DNA animal só foi identificado agora? 

Essa é a pergunta que os pesquisadores fazem à equipe que coletou as amostras – que inclui George Gao, antigo diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China. A equipe chinesa publicou um artigo em fevereiro de 2022 informando que as amostras que testaram positivo para o Sars-Cov-2 também continham DNA humano, mas de nenhum outro animal. 

Segundo a pesquisa assinada por Gao, isso indicaria que o vírus foi levado ao mercado por humanos, e não o contrário. O artigo conclui que o wet market de Wuhan não iniciou a pandemia, mas amplificou a disseminação do vírus nos momentos iniciais.

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Esses resultados deram força para duas hipóteses: que o vírus é fruto de um vazamento de laboratório; ou que o vírus surgiu de alguma forma fora da China e depois foi levado ao país.

Só que não foi isso que o novo estudo encontrou. Florence Débarre, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS), estava navegando pelo GISAID no dia 4 de março quando trombou com o sequenciamento genético até então desconhecido. Ela baixou os dados e então entrou em contato com outros pesquisadores para analisá-los.

Um desses pesquisadores foi Michael Worobey, da Universidade do Arizona, que já havia publicado papers sobre a origem animal do coronavírus. Ele esteve presente em uma reunião que apresentou os novos dados à OMS. Já o virologista Edward Holmes, da Universidade de Sydney, mostrou fotos de um cão-guaxinim sendo comercializado ilegalmente no mercado em 2014.

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A equipe diz que entrou em contato com Gao para colaborar na análise das sequências genéticas. No entanto, os dados foram retirados do ar logo em seguida. Em conferência no dia 17 de março, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu por mais transparência nos dados.

A descoberta não encerra a questão sobre a origem do coronavírus – mas abre mais possibilidades que devem ser exploradas em pesquisas no futuro.

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