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Estudo de DNA revela como golfinhos e baleias resistem melhor ao câncer

Baleias são animais gigantes, e por isso deveriam ter taxas de câncer bem maiores que as nossas. Mas não é isso que acontece – e a resposta está na história evolutiva do genoma dos cetáceos.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 25 jul 2022, 10h35 - Publicado em 1 mar 2021, 19h33

Baleias são animais conhecidos por viver muito – algumas espécies, como a baleia-da-Groenlândia (Balaena mysticetus), ultrapassam a marca dos 200 anos. Elas também chamam a atenção pelo seu tamanho: a baleia-azul, com seus mais de 150 toneladas de peso, é o maior animal que já existiu na Terra.

Mas há uma contradição entre esses dois números: ter um corpo muito grande significa ter mais células, e ter mais células aumenta as chances de ter câncer. Basta um erro durante o processo de replicação do material genético de uma delas para gerar um tumor maligno. Estatisticamente, faz sentido pensar que esses animais estariam mais suscetíveis a morrer de câncer antes de atingir idades elevadas. Seguindo esse raciocínio, essas espécies nem deveriam existir, pois seus antecessores teriam morrido de câncer antes de chegar à maturidade sexual.

Na prática, porém, não é isso que acontece: baleias e outros animais grandes, como elefantes, têm taxas de câncer menores que a maioria dos outros mamíferos. Os cetáceos (grupo ao qual pertencem as baleias, golfinhos e botos) representam os mamíferos com maior tempo de vida. É esse o paradoxo de Peto – batizado em homenagem ao biólogo Richard Peto, de Oxford, autor do primeiro texto que apontou essa anomalia estatística, em 1977.

Agora, um novo estudo pode ajudar a entender o porquê. Cientistas da Universidade Austral do Chile analisaram a evolução de 1077 genes supressores de tumores (conhecidos pela sigla TSG) em quinze espécies de mamíferos, incluindo sete cetáceos. Esses genes são responsáveis por regular o ciclo celular e impedir que um erro resulte em um tumor maligno.

Os resultados, publicados na revista Proceedings of the Royal Society B, explica a anomalia com base na seleção natural: ao longo da evolução, os genes TSG foram selecionados positivamente em espécies de cetáceos com muito mais frequência do que outros mamíferos. Na análise evolutiva, a equipe revelou que os cetáceos ganharam e/ou perderam TSGs a uma taxa 2,4 vezes maior do que outros mamíferos. O gene CXCR2, um importante regulador de danos do DNA, da disseminação tumoral e do sistema imunológico, foi amplamente selecionado ainda no ancestral comum que deu origem às baleias e aos golfinhos.

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Os pesquisadores ainda relatam a duplicação de 71 genes nos cetáceos, sendo que 11 deles estão relacionados a longevidade. Eles regulam o envelhecimento e proliferação celular, estando relacionados ao possível surgimento de tumores.

Segundo a equipe, o estudo ajuda a entender como os organismos dos cetáceos conseguem controlar o câncer com muito mais eficiência que humanos – e ajudar a pensar em novos tratamentos para nós. Obviamente, não é como se fossemos implantar genes de golfinhos no nosso DNA para criar uma imunidade contra a doença. Mas entender exatamente como esses genes agem em nossas células podem abrir caminho para imitarmos os mecanismos com medicamentos ou intervenções terapêuticas mais eficientes para combater tumores.

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