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Estrela tirou uma ‘fina’ do Sol – e alterou as rotas de asteroides

Graças à bagunça gravitacional causada pela estrela de Scholz, astrônomos identificaram 8 objetos "alienígenas", que vieram de fora do Sistema Solar

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 mar 2018, 17h42 - Publicado em 22 mar 2018, 16h22

A parcela do universo que pode ser vista aqui da Terra tem ‎8800000000000000000000000000 quilômetros de diâmetro. É mais do que espaço suficiente para evitar que dois astros trombem um com o outro, certo?

Bem, não. Há 70 mil anos – uma época em que o ser humano ainda convivia com Neandertais e não pintava as paredes das cavernas – a estrela de Scholz, que tem 9% da massa do Sol, passou a apenas 0,82 ano-luz dele. Isso pode até parecer muito na escala humana (afinal, são 7,7 trilhões de quilômetros), mas, na escala cósmica, é uma fina de dar medo. Para fins de comparação, a estrela mais próxima de nós hoje em dia é Proxima centauri, que fica a 4,2 anos-luz daqui. Cinco vezes mais longe.

Por ter passado tão perto, a estrela de Scholz invadiu a nuvem de Oort: um acúmulo de pequenos pedregulhos cobertos de água, amônia e metano, que fica nos limites da área de influência gravitacional do Sol. Bem, bem mais longe que Netuno e Plutão. A anã-vermelha bagunçou o equilíbrio desses objetos, alterando as trajetórias de vários deles. Esse tipo de peteleco cósmico pode ser fatal para nós. Muitos asteroides que já vieram em direção à Terra estavam flutuando em paz na nuvem de Oort até terem seus caminhos desviados por uma anomalia desse tipo.

Nós já sabemos dessa aproximação arriscada desde 2015, quando um estudo da Universidade de Rochester, nos EUA, calculou a trajetória da estrela de Scholz no passado a partir de sua posição atual (ela já fugiu da cena do crime: atualmente, está a 20 anos-luz de nós). Mas um artigo científico mais recente, publicado em fevereiro, foi o primeiro a analisar o impacto dela sobre os asteroides próximos. Foram analisados 340 corpos da nuvem de Oort. E os que percorrem os caminhos mais estranhos estão no pedaço do céu em que fica a constelação de Gêmeos – justamente a direção de que veio a estrela de Scholz.

Não para por aí: lembra de ‘Oumuamua – o asteroide avermelhado em forma de charuto que veio de fora do Sistema Solar e derrubou a internet em novembro do ano passado? Foram encontrados oito colegas dele, que também provêm de confins desconhecidos da Via Láctea. Os cientistas sabem disso porque asteroides que vêm da órbita de outras estrelas seguem uma curva chamada “hiperbólica”.

Asteroides de dentro do Sistema Solar que tiveram sua trajetória alterada por algo grande – como a estrela de Scholz – também podem assumir essa curva e acabar, aos olhos dos astrônomos, sendo confundidos com asteroides interestelares. Em princípio, não é possível distinguir os “verdadeiros” dos “falsos”. Agora que se sabe detalhes de como foi a aproximação da anã-vermelha, ficou mais fácil distinguir um tipo de asteroide do outro – e isolar o pequeno grupo que realmente veio de outros cantos da galáxia. Boa noite, alienígenas. 

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