Relâmpago: Revista em casa a partir de 9,90

Essa formiga brasileira é tão preta que reflete menos de 1% da luz

A bichinha impressiona: não só é um dos animais que apresentam maior absorção de luz como também são um sumidouro de ultravioleta.

Por Manuela Mourão
22 dez 2024, 16h00

Vantablack é o nome do pigmento mais escuro do mundo. Feito com nanotubos de carbono, esse material absorve 99,965% da luz incidente. Olhar para um cubo pintado com essa substância é como observar aquelas cenas do Looney Tunes em que um personagem conjura um buraco na paisagem só para o outro cair. 

Na natureza, alguns pretos são mais escuros que outros. O pretinho mais básico é o dos corvos, por exemplo. A coloração extrema das penas desses animais é resultado da presença de melanina, o mesmo pigmento que dá cor a nossos cabelos. Ou seja: é preto, mas não tão preto. 

Aí entram os animais super-pretos, que, diga-se de passagem, são também super-raros. Para obter esses tons, não basta pigmento. São necessárias microestruturas com outros recursos físicos para dar fim na luz que atinge o animal.

Alguns super-pretos exemplares são as aranhas-pavão, as aves-do-paraíso, as víboras-do-gabão, alguns peixes e as borboletas sapateiro-grego.

Um membro ilustre dessa lista são as formigas-feiticeiras, ou formigas-veludo (Traumatomutilla bifurca). Originárias da caatinga brasileira, essas formigas, na verdade, não tem nada de formigas.

Continua após a publicidade

Apesar do nome, os insetos são vespas sem asas – daí o nome da família Mutillidae, as vespas mutiladas. Outra característica única da éspecie é sua a aparência exterior felpuda.

Esse grupo é encontrado no mundo inteiro: nos Estados Unidos, elas são conhecidas como “matadoras de vacas” (cow-killers) e possuem um tom avermelhado. O que torna os exemplares brasileiros especiais, porém, é o preto.

Vinicius Lopez, entomologista da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, se especializou em coloração de insetos e, junto a uma equipe de cientistas, descobriu que as partes pretas desses bichinhos fêmeas eram, na verdade, super-pretas. O estudo foi publicado no Beilstein Journal of Nanotechnology

Continua após a publicidade
Compartilhe essa matéria via:

Ele contou ao New York Times que talvez seja por sua habilidade de desaparecer facilmente (graças a coloração) que as Traumatomutilla bifurca ganharam o nome popular e místico de “feiticeiras”.

A descoberta marca o primeiro registro de coloração super-preta em um inseto do grupo das vespas, formigas e abelhas (a ordem Hymenoptera). Além disso, os pesquisadores apontam que o tom das brasileiras é mais escuro do que o encontrado em outros animais super-pretos. 

Continua após a publicidade

Esse tipo de pigmentação ajuda os animais em diversos aspectos, como a regulação da temperatura do corpo, camuflagem contra predadores e atração de parceiros. Lopez e sua equipe estavam investigando os mecanismos de produção de cor em insetos quando descobriram que a formiga-veludo possui um revestimento único.

Sob uma camada densa de estruturas similares a pelos, o exoesqueleto do inseto apresenta plaquetas empilhadas de forma intricada, num padrão nunca antes visto em outros animais de coloração escura.

Os pesquisadores acreditam que essa disposição seja crucial para produzir a cor ultra-preta e opaca do inseto, pois a luz é facilmente absorvida e fica “presa” nas camadas de quitina da vespa.

Continua após a publicidade

As fêmeas também absorvem quase toda a luz ultravioleta. A teoria dos autores é que isso pode ser uma estratégia de defesa contra predadores que conseguem enxergar ondas eletromagnéticas invisíveis para nós, meros mortais.

Ainda restam dúvidas, porém. Qual o motivo do super-preto aparecer somente nas fêmeas, por exemplo? Os pesquisadores pretendem continuar na análise do tema. 

Por ora, podemos ficar felizes pela sempre surpreendente biodiversidade das terras brasileiras – e vale a recomendação: melhor olhar bem por onde pisa, pois a picada das bichinhas é braba.

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.