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Esta espécie de peixe domesticou camarões – e os faz trabalhar para ela

Os peixes-donzelas podem ser os primeiros vertebrados não-humanos a ter domesticado outro animal, segundo um novo estudo.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 24 dez 2020, 16h53 - Publicado em 18 dez 2020, 18h32

Cães, gatos, ovelhas, vacas, milho… a lista de espécies que a humanidade domesticou é longa, remonta há milhares de anos e inclui até candidatos exóticos, como insetos e fungos. Mas, curiosamente, esse tipo de comportamento não parece ser tão comum na natureza.

Agora, uma equipe de cientistas acredita ter encontrado uma espécie de peixe que domesticou camarões e os utiliza de forma parecida com que humanos usam animais em fazendas. Esse pode ser o primeiro vertebrado além de humanos capaz de domesticar outro animal.

O peixe em questão é o Stegastes diencaeus, uma das espécies de peixes-donzelas. Ele habita regiões de corais no Mar do Caribe próximas à costa de Belize, na América Central, onde cultiva suas “fazendas” de algas para alimentação própria. Os peixes-donzelas são extremamente territoriais – e atacam qualquer um que chegue perto da sua propriedade.

Ao estudar essa espécie, os cientistas da Universidade Griffith, na Austrália, notaram um detalhe importante: pequenos crustáceos conhecidos como misidáceos (Mysidium integrum) tinham passe livre nas áreas de cultivo de algas dos peixes. Isso porque esses bichinhos trazem benefícios para as plantações: suas fezes fertilizam as algas e aumentam sua qualidade nutritiva. O estudo descrevendo a descoberta foi publicado na revista Nature.

Segundo a equipe, os peixes-donzelas propositalmente permitem que os crustáceos morem na região para atuarem como fertilizadores. Esse é um comportamento de domesticação parecido com o que humanos fazem com animais em fazendas. Em troca da fertilização, os peixes oferecem proteção aos invertebrados, já que eles não deixam mais ninguém entrar na área.

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É a primeira vez que uma relação de domesticação entre animais não-humanos é observada. Cientistas já sabiam que formigas e outros insetos podem cultivar espécies de fungos para  comê-las depois. Mas o peixe-donzela é o primeiro vertebrado conhecido que faz o mesmo.

Segundo a equipe, essa relação pode ajudar a entender como processo de domesticação acontece na natureza. Atualmente, acredita-se que a domesticação começa como uma relação de comensalismo: enquanto uma espécie se beneficia da relação, não há prejuízos ou grandes benefícios para a outra. A espécie que mais se beneficiou mais da relação é domesticada e acaba se diferenciando bastante dos seus ancestrais selvagens. A espécie domesticadora não necessariamente muda muito.

Foi assim que a domesticação dos primeiros cães aconteceu: inicialmente, lobos ferozes eram atraídos para assentamentos humanos para se aproveitar dos restos de comida preparadas pelos sapiens. Quanto mais amigáveis e dóceis eles fossem, mais despertariam a compaixão nos humanos – e mais chances teriam de ganhar comida. Gerações depois, aqueles animais selvagens viraram os melhores amigos do homem.

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É provável que isso também esteja acontecendo com os peixes-donzelas e os misidáceos. Esses últimos podem ter sido atraídos para os corais, assim como os cães eram atraídos para vilas humanas. Uma prova disso é que existem comunidades de peixes-donzelas que cultivam suas algas sem a presença dos crustáceos, mostrando que esses são dispensáveis para a sobrevivência dos peixes. No entanto, não existem misidáceos em regiões de corais sem peixes-donzelas. Isso indica que, sem a proteção do domesticador, os camarõezinhos não conseguem sobreviver e prosperar.

“Este estudo destaca o papel importante que a proteção contra predadores desempenha na domesticação, já que os camarões misidáceos são rapidamente consumidos por outros predadores quando os peixes-donzelas domesticadores não estavam presentes”, disse William Feeney, um dos autores do estudo, em comunicado. “[A pesquisa] revela detalhes fascinantes sobre a domesticação por parte dos humanos que podem ser obtidos ao examinar relações entre organismos não humanos.”

 

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