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Entenda a descoberta que ganhou o Nobel de Física de 2017

O prêmio foi para o time que descobriu as ondas gravitacionais, um fenômeno que Einstein previu, mas que jurava que jamais encontraríamos. Ele estava errado

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 out 2017, 16h19 - Publicado em 3 out 2017, 15h58

Há 1,3 bilhões de anos, em uma galáxia muito, muito distante, dois buracos negros 30 vezes maiores do que o Sol se chocaram e viraram um só. Essa pancada liberou tanta energia que gerou ondas gravitacionais: perturbações que se propagam no tecido do espaço-tempo.

Há 100 anos, na Alemanha, um tal de Albert Einstein previu a existência das ondas gravitacionais – mas apostou que nós nunca seríamos capazes de detectá-las.

Em 24 de setembro de 2015, as ondas produzidas lá no primeiro parágrafo alcançaram o LIGO, o observatório astronômico mais ambicioso já construído pela espécie humana. Cansadas da longa viagem, elas já estavam mais para marolinhas. Mas ainda foram capazes de gerar uma perturbação menor que um átomo – detectada com precisão por dois pares de raios laser de quatro quilômetros de comprimento, distantes 3 mil quilômetros um do outro (um na Louisiana, outro em Washington).

Bingo! Einstein estava certo: as ondas existiam, do jeitinho que ele previu. Também estava errado: com 1,1 bilhões de dólares e mais de mil cientistas de 20 países, foi possível detectá-las. Não é à toa, portanto, que as três cabeças que estão por trás desse feito histórico – o alemão Rainer Weiss e os norte-americanos Barry C. Barish e Kip S. Thorne –  levaram agora o Prêmio Nobel de Física de 2017. Weiss, em particular, deu os primeiros passos rumo à descoberta ainda na década de 1970, quando o LIGO ainda não era nem especulação. 

“Legal”, você dirá, “eles confirmaram uma teoria de 100 anos. Mas alguém realmente achava que Einstein estava errado?”

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Bem, não. Einstein já errou na vida (já ouviu falar da constante cosmológica?), mas esse claramente não era o caso. Acontece que pegar as ondas gravitacionais no ‘flagra’ foi só o primeiro passo de algo muito, muito maior: usá-las para observar coisas a que as outras ondas não dão acesso.

Quando você toca uma corda de violão, o som que você ouve é uma onda mecânica, que se propaga no ar. Ou seja: no vácuo do espaço, não há música – nem as explosões que você ouve em Star Wars. Moral da história 1? Não podemos ouvir o universo.

A luz também é feita de ondas. No caso, ondas eletromagnéticas. Essas sim, se propagam no vácuo – por isso você vê o céu estrelado. Mas tudo tem limite. Há galáxias tão distantes que sua luz tênue está além do que os telescópios mais modernos podem observar. Além disso, há coisas – chamadas buracos negros – que sequer podem ser vistas. Moral da história 2: em muitos casos, também não podemos ver o universo.

Já as ondas gravitacionais são um negócio tão cataclísmico que elas se propagam dobrando as quatro dimensões que dão forma à realidade. Isso torna-as uma janela para estudar os fenômenos naturais mais violentos, distantes e misteriosos que existem. Essas ondas são acima de tudo uma ferramenta – que dará aos astrônomos do terceiro planeta a partir do Sol um novo par de olhos para observar os céus.

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