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Em dias quentes, elefantes podem perder até 500 litros de água

É o equivalente a duas banheiras cheias! Isso só reforça que o animal, já ameaçado de extinção, pode ser afetado também pelo aquecimento global.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 27 nov 2020, 19h18 - Publicado em 27 nov 2020, 19h13

Dias de calor extremo já são ruins para nós, seres humanos. Mas para os elefantes, uma temperatura alta tem um significado muito maior: em dias quentes, esses simpáticos e gigantes mamíferos podem perder até 7,5% de sua massa corporal em forma de água. Isso equivale a cerca de 500 litros de água em um único dia – mais ou menos duas banheiras grandes cheias. É o maior volume diário de água perdido já registrado em animais terrestres.

Pode parecer só mais uma curiosidade do reino animal, mas esse dado é importante para entender como as mudanças climáticas afetarão as populações desses animais, que já estão altamente ameaçados de extinção por causa da caça e da perda de habitat. Adaptados para viver em savanas africanas, os elefantes-da-savana (Loxodonta africana) precisam ingerir centenas de litros de água por dia (seja bebendo ou conseguindo o líquido através da comida). No futuro, isso pode ficar cada vez mais difícil.

As descobertas foram feitas durante uma pesquisa publicada na revista Royal Society Open Science. Para medir a perda de água, os pesquisadores do Zoológico da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, forneceram aos elefantes altas quantidades de deutério – uma variação mais pesada do hidrogênio que, no corpo, diluí-se na água. O átomo de hidrogênio normal tem em seu núcleo somente um próton, partícula de carga positiva. Já o deutério possui um próton e um nêutron, uma partícula neutra, sem carga. Na prática, o elemento funciona como um hidrogênio normal e é totalmente inofensivo para os animais, mas tem a vantagem de ser fácil de se rastrear em exames por ter uma massa atômica diferente que, geralmente, formam as moléculas de H2O (a água formada por deutérios é chamada de água pesada).

A equipe coletou amostras de sangue dos elefantes e mediu a variação da quantidade de deutério encontrada – e, consequentemente, a quantidade de água no corpo do bicho. Os resultados impressionaram: em dias com temperaturas frias e amenas (de 6º C até 14º C), os elefantes perdiam cerca de 325 litros de água. Mas, quando as temperaturas passavam dos 24º C, esse valor subia rapidamente para mais de 400 litros. Às vezes, para mais de 500.

Segundo os cientistas, isso equivale a 10% de toda água no corpo dos elefantes, e cerca de 7,5% de sua massa corporal. Pode parece lógico que um animal gigante elimine grandes quantidades de água, é claro, mas mesmo em termos relativos o número se sobressaí. Os humanos, por exemplo, perdem 5% da massa corporal em água em um dia quente (sem considerar atividade física extrema); os cavalos, bem maiores que nós, perdem 6%.

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Elefantes são animais herbívoros, então têm uma grande vantagem de conseguir bastante água das plantas que consomem. Para evitar desidratação massiva em épocas de calor, eles precisariam consumir água a cada dois ou três dias, segundo o estudo. Mas a preocupação quanto a questões de saúde desses animais continua: os elefantes precisarão de mais água caso o clima esquente, porém as mudanças climáticas podem afetar a disponibilidade de água líquida (em fontes como rios e lagos) e até mesmo de plantas que compõem sua dieta. Além disso, outros animais também serão afetados – e a competição pelos recursos se tornará acirrada.

É possível que isso também afete populações humanas. “Previsões dizem que a maior parte do sul da África se tornará mais seca e quente no futuro, e as áreas áridas deverão se expandir ainda mais”, escrevem os cientistas no estudo. “Essas mudanças climáticas devem aumentar o estresse hídrico nos elefantes que habitam essas áreas, o que pode afetar as rotas de migração e resultar em conflito por água com as populações humanas (por exemplo, no caso da água usada para a agricultura).” Como a espécie só têm cerca de 420 mil representantes vivos, isso pode aumentar ainda mais o impacto dos humanos nessas populações, que são alvo de caçadores ilegais por conta da sua carne e, principalmente, do marfim de seus dentes.

Felizmente, muitos esforços de conservação foram tomados nas últimas décadas para protegê-los. Milhares de elefantes vivem em parques nacionais e reservas ecológicas controladas por governos e organizações que podem tentar contornar esse problema no futuro, Uma parcela dos animais vive também em zoológicos e santuários com condições climáticas e oferecimento de água e comida controlada.

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