Em 15 minutos, reação química decompõe roupas velhas para reciclagem
Menos de 1% das roupas produzidas no mundo são reutilizadas, mas um método químico pode ajudar nesse processo, especialmente com o poliéster.
A quantidade de lixo gerada pelo descarte de roupas ainda é um problema relativamente pouco discutido. Por ano, são produzidas cerca de 92 milhões de toneladas de lixo têxtil, e só 0,5% disso passa por reciclagem ou alguma outra forma de reutilização.
A grande maioria é incinerada ou vai parar em aterros sanitários, como um dos grandes lixões de roupa do mundo que fica no meio do deserto do Atacama, no Chile. Estima-se que o cemitério de roupas por lá já tenha alcançado o tamanho de 300 hectares, o equivalente a 420 campos de futebol.
O problema da reciclagem de tecidos é que grande parte deles é feito a partir de vários materiais, como a mistura de algodão com fibras sintéticas, caso do poliéster (um polímero plástico).
Essas fibras mistas são um desafio para a reciclagem por conta da dificuldade na separação mecânica entre a parte que é tecido e a parte sintética.
Agora, um grupo de pesquisadores pode ter encontrado uma forma de resolver o problema: um processamento químico que é capaz de decompor tecidos em moléculas reutilizáveis.
Esse método de reciclagem foi criado por cientistas da Universidade de Delaware e do Centro de Inovação em Plásticos, nos EUA. Para isso, eles utilizaram uma reação química chamada de glicólise assistida por micro-ondas com um catalisador de ZnO (Óxido de Zinco), seguida por dissolução em um solvente. Esse processo é capaz de quebrar as longas cadeias de moléculas dos polímeros em partes cada vez menores (monômeros).
O estudo foi publicado no último dia 3 de julho na Science Advances, e promete não só conseguir reciclar tecidos mistos, como otimizar o processo. Todo o procedimento dura cerca de 15 minutos, e nos tecidos feitos totalmente em poliéster, cerca de 90% foi convertido em uma molécula chamada BHET (Tereftalato de bis-hidroxietila), que pode ser reciclada diretamente.
“Normalmente, essas coisas levam dias para serem quebradas. Então, passar de dias para alguns minutos, acho que é uma grande renovação. Acho que podemos realmente chegar a segundos”, conta em comunicado Dionisios Vlachos, engenheiro da Universidade de Delaware e um dos autores do estudo.
Esse processo também foi utilizado em tecidos com diferentes composições, como algodão, poliéster, nylon ou spandex. Nos tecidos 50% algodão e 50% poliéster, por exemplo, como somente o poliéster participa da glicólise, o algodão não reage com a mistura química, permanecendo intacto após o procedimento.
Mais pesquisas e testes ainda são necessários, mas os pesquisadores acreditam que com um desenvolvimento maior no método, pelo menos 80% das roupas descartadas no mundo poderiam ser recicladas. Vlachos e os outros pesquisadores acreditam que, apesar de simples, esse procedimento poderá ser utilizado para reciclar grandes quantidades de roupas: “Estamos muito otimistas de que isso pode realmente ser levado para o mundo real.”
Por conta de seu baixo custo, o poliéster é utilizado em uma gama cada vez maior de roupas, gerando o problema do chamado fast fashion, em que as peças são produzidas a toque de caixa e por um baixo custo. E não são feitas para durar.
Essa tem sido uma das principais críticas à indústria da moda nos últimos anos. O excesso de lixo gerado pelo consumo desenfreado de roupas no fast fashion tornou-se uma das principais preocupações ambientais do século 21.
“Um bom terço ou mais dos microplásticos que acabam no oceano vêm das roupas. Nossa capacidade de desenvolver tecnologia para lidar com todo esse lixo e removê-lo do meio ambiente, dos aterros sanitários e dos oceanos é muito importante”, conclui Vlachos.