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E se a Terra parasse de girar?

Sem o movimento de rotação, que põe nosso planeta a rodopiar a 1.669 km/h em seu próprio eixo, a vida seria um caos – e poderia acabar em um instante

Por Guilherme Eler
Atualizado em 22 jan 2019, 19h24 - Publicado em 17 jan 2019, 19h17

Você nem se dá conta disso, mas vive em um pião que gira a 1.669 quilômetros por hora. É essa, pelo menos, a velocidade da rotação terrestre na linha do Equador – ponto do planeta em que atinge seu valor máximo. O porquê de não ficarmos enjoados com o movimento e pedirmos para descer do brinquedo é bem simples: tudo que sua vista alcança está girando junto com você, no mesmo ritmo.

Se algo fosse capaz de extinguir o rodopio natural da Terra, como se ela fosse um globo escolar que você freia com o dedo, então, é óbvio que teríamos problemas.

Dá para imaginar essa pausa de duas maneiras: primeiro, como uma freada brusca; segundo, como uma desaceleração mais branda, em que a esfera fosse perdendo velocidade aos poucos até parar. Ainda que, em ambos os casos, o resultado final fosse o mesmo – fazer o velocímetro terrestre chegar a zero – os impactos seriam diferentes. Sobretudo no primeiro momento.

Caso a freada fosse instantânea, tudo seria arremessado no sentido Leste, o da rotação da Terra, com uma força inacreditável. É a primeira lei da mecânica em ação, mostrando que aquilo que está em movimento vai permanecer em movimento. A estática de prédios, carros, pontes e a sua própria, leitor, seria rompida à velocidade de rotação da Terra – que varia em diferentes pontos do globo, sendo menor em áreas de maior latitude.

Em suma: quem mora em São Paulo, longe da linha do Equador, mas nem tanto, seria arremessado para o Leste a 1.535 km/h. Quem vive em Porto Alegre, ainda mais ao Sul, a 1.446 km/h. Os 2.144 habitantes da cidade de Longyearbyen, a mais setentrional do mundo, na Noruega, seriam mais poupados. O lugar fica tão perto do Polo Norte que a cidade gira a meros 346 km/h. Ou seja, os moradores também seriam acelerados instantaneamente a uma velocidade mortal, mas menos absurda.

Outro detalhe: a atmosfera também continuaria girando. Ventanias supersônicas terminariam de levar para os ares aquilo que teimasse em ficar preso no chão. Nos oceanos, tsunâmis fariam a água salgada avançar para os continentes.

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Não fica nisso, principalmente se considerarmos que a maior parte da água dos oceanos fica concentrada perto da linha do Equador. Nessa área, o mar é até 8 quilômetros mais “alto” que em outras regiões. Culpa da força centrífuga, que faz a água acumular por lá conforme a Terra gira – como se o planeta fosse uma máquina de lavar gigante.

Com a Terra parando, esse acúmulo deixaria de existir. E os mares tomariam, pela primeira vez na história geológica da Terra, o seu formato natural. O excesso de água na cintura do planeta, então, escorreria para os polos. Com uma lâmina de água quilômetros mais baixa, novos continentes iriam emergir nas áreas equatoriais do Atlântico, do Pacífico e do Índico. Lá em cima, partes do Canadá, do norte da Europa e da Rússia sumiriam, segundo prevê um modelo matemático criado pela Esri, uma empresa americana de mapeamento geográfico.

A única forma de impedir que as coisas virassem do avesso em um piscar de olhos seria cessar a rotação de forma menos brusca. Questão de timing.

Podemos tomar o exemplo de Brasília, que gira a 1.620 km/h (ou 450 metros por segundo). Se a frenagem da Terra levasse um segundo, nossos políticos da esfera federal seriam submetidos a uma aceleração de 45 G – 45 vezes mais forte que a da gravidade.

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Para que a desaceleração fosse segura, ela deveria ficar próxima a 1 G – 10 metros por segundo a cada segundo, numa notação mais científica. O tempo de frenagem ideal para Brasília, então, deveria ser de 45 segundos.

Não que fosse ficar tudo certo. Uma Terra parada perderia seu campo magnético, nos deixando completamente expostos à radiação ionizante do Sol. Isso seria um problema ainda maior, uma vez que teríamos de aguentá-lo por seis meses seguidos.

Sim, um ano passaria a valer um dia terrestre. Assim, metade do ano seria uma noite congelante, que valeria enquanto estivéssemos na face do planeta virada do lado oposto do Sol. Na outra metade, teríamos um dia escaldante, com o astro apontado diretamente para nós, seis meses a fio.

As correntes oceânicas teriam papel ainda mais crucial no equilíbrio das temperaturas, transportando o calor das águas quentes do lado iluminado do planeta para as frias, onde reinaria a noite. Caso esse sistema não funcionasse, uma camada de gelo espessa poderia se formar no oceano. Aí, estaria aberta a contagem: se o gelo do lado noturno não derretesse nos seis meses seguintes, de Sol constante, a Terra entraria em uma glaciação e estaria tudo acabado.

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Há outra hipótese. A evaporação intensa de água dos oceanos do lado iluminado poderia represar grande quantidade de vapor na atmosfera, aumentando o efeito estufa. Em último caso, isso faria toda a água dos oceanos ir embora para a atmosfera. As temperaturas iriam às alturas, tornando o planeta igualmente inabitável.

É verdade que, devido à interação com a Lua, a Terra tem freado a uma taxa de 1,5 milissegundo a cada cem anos – e, por isso, teremos dias um tantinho mais longos daqui para frente. Em 4,6 bilhões de anos, por exemplo, serão apenas sete giros por ano, e os dias terão 1.152 horas.

Mas a chance de estarmos aqui para ver de perto esses dias ultralongos é quase zero. Daqui a 1 bilhão de anos, o Sol estará 10% mais quente, como consequência natural do envelhecimento de uma estrela. Será o bastante para vaporizar os mares e eliminar a água líquida do planeta. A possibilidade de alguma forma de vida sobreviver a tal cataclisma é tão nula quanto a da Terra parar de girar neste exato momento.

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