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DNA encontrado em esqueleto humano revela caso mais antigo de malária

A malária surgiu na África e se espalhou pelo mundo. Mas como? Um novo estudo analisou caveiras de até 5,5 mil anos para entender a dispersão da doença.

Por Eduardo Lima
Atualizado em 13 jun 2024, 16h26 - Publicado em 13 jun 2024, 16h00

A malária é uma doença associada comumente a locais tropicais e subtropicais, como as Américas e a África. Mas sua trajetória pelo mundo e ao longo da história, até se tornar o problema de saúde pública que é hoje, é misteriosa e complexa – como ela não deixa marcas físicas em ossos humanos, dificulta o trabalho dos arqueólogos. Não sabemos com certeza, por exemplo, quando a infecção surgiu na história da humanidade.

Agora, avanços em análises de amostras de DNA ajudaram cientistas a encontrar traços do material genético dos patógenos da malária que ficaram em esqueletos humanos com milhares de anos. Com isso, a equipe encontrou o caso mais antigo da doença, há 5,5 mil anos, o que sugere que a doença é bem mais antiga do que se imaginava até então.

O estudo publicado na revista científica Nature investigou dois dos parasitas que causam a malária, o Plasmodium falciparum e o Plasmodium vivax, ambos protozoários. Esses protozoários continuam na ativa até hoje, causando mais de 200 milhões de casos da doença por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Doença veterana

Foram analisadas amostras de esqueletos de 36 pessoas infectadas, que viveram até 5.500 anos atrás e habitaram cinco continentes diferentes, em busca de pedacinhos de DNA dos parasitas para entender as diferenças da malária de uma região para a outra – e, assim, como ela se espalhou pelo globo.

Anteriormente, já se sabia que a doença muito provavelmente surgiu nas florestas tropicais da África, mas como ela se espalhou de lá para a Europa e a Ásia na antiguidade ainda é um processo nebuloso para a ciência.

Até então, tínhamos evidências indiretas dos efeitos do parasita na humanidade. Na Índia védica, entre 1.300 a.C e 300 a.C., escritos falam de uma doença que seria o “rei de todas as febres”, que historiadores suspeitam fortemente ser a dita cuja. Textos chineses do século 3 a.C. colocavam a culpa da malária em três demônios. Clássicos do mundo grego como Homero, Sófocles e Hipócrates mencionam a enfermidade em suas obras. Tem até quem argumente que a infecção contribuiu para a queda de Roma.

No novo artigo, pesquisadores descrevem o caso mais antigo já identificado, de um homem que morreu na atual Alemanha há 5,5 mil anos, em plena Idade da Pedra. Esse número, por si só, já mostra que a doença é mais velha do que se imaginava até então – mas pesquisadores acreditam que ela é ainda mais anciã, já que essa prova foi encontrada na Europa, e sabemos que ela veio da África.

Este novo estudo também ajuda a mostrar o impacto que essa convivência com a malária teve no genoma humano. Variantes genéticas de glóbulos vermelhos mais resistentes à doença são mais comuns em pessoas que tiveram seus ancestrais vivendo em locais com taxas altas de infecção.

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Malária viajando pelo mundo

Um outro mistério é como a malária chegou às Américas: ela foi trazida pelos colonizadores europeus ou já estava presente quando os primeiros humanos habitaram o continente? A nova pesquisa trouxe mais pistas.

Um dos esqueletos que teve seu DNA analisado viveu na cordilheira dos Andes, no Peru, há cerca de 500 anos. O parasita que o infectou tem similaridades com aqueles que habitavam a Europa na mesma época. Os pesquisadores chegaram à conclusão que, provavelmente, foram os colonizadores europeus que responsáveis por levar a malária à América, e não os primeiros humanos que chegaram ao continente. Novos estudos precisam ser feitos para confirmar essa hipótese.

Um esqueleto de 2.800 anos atrás encontrado no Himalaia também mostrava sinais de infecção com o Plasmodium falciparum. Essa foi uma descoberta mais intrigante, já que a região é fria e alta demais para que os mosquitos que carregam os parasitas da malária sobrevivam. É provável que ele tenha contraído a doença em uma região de altitude mais baixa e viajou para as montanhas depois.

Como o estudo analisou um número limitado de genomas, não dá para tirar conclusões assertivas sobre toda a história da malária. Mais estudos na Europa e na África subsaariana ajudariam a entender melhor como a doença se espalhou e conquistou o mundo.

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