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Desmatamento está fazendo animais comerem cocô de morcego. E isso é um problema

Em Uganda, mamíferos foram vistos ingerindo fezes repletas de vírus, incluindo um do mesmo gênero do causador da Covid-19.

Por Bruno Carbinatto
28 abr 2024, 16h00 • Atualizado em 28 abr 2024, 16h26
  • Com o avanço do desmatamento nas florestas tropicais de Uganda, na África oriental, animais estão ficando sem comida – e, por consequência, acabam ingerindo cocô de morcego para sobreviver. Isso é um problema porque os excrementos do bichinho abrigam diversos tipos de vírus, alguns dos quais podem ser perigosos para mamíferos (incluindo nós, humanos).

    A descoberta foi publicada num artigo recente na revista Communications Biology. O estudo foi feito pela Universidade de Stirling, na Escócia, em parceria com a Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA.

    Tudo começou quando, em 2017, os cientistas observaram que um chimpanzé na floresta de Budongo, na Uganda, estava consumindo guano de um buraco em uma árvore. “Guano” é o nome que se dá ao acúmulo de aves ou de morcegos – caso do episódio ocorrido em Uganda.

    Eles então colocaram câmeras nas florestas selvagens para verificar se o comportamento era comum. E descobriram que sim: ao longo de três anos de gravações, mais chimpanzés, outras espécies de macacos e também antílopes foram registrados consumindo guano.

    Os pesquisadores explicam que o comportamento provavelmente está ligado ao crescente desmatamento da região – as florestas locais estão diminuindo nos últimos anos devido à plantação de tabaco.

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    Com menos floresta, fica mais difícil para os bichos conseguirem completar sua alimentação normal, composta principalmente de palmeiras (em especial a espécie Raphia farinifera). Recorrem, então, ao consumo do cocô de morcego acumulado, que contém minerais e nutrientes cruciais para a sobrevivência dos animais.

    O grande problema disso: as fezes de morcegos são repletas de vírus. Um maior contato entre os animais selvagens e esses patógenos, então, aumenta as chances de um microrganismo se adaptar, passar a infectar mamíferos como chimpanzés e, assim, “pular” para os seres humanos, causando doenças.

    Os pesquisadores coletaram, então, amostras do guano local para analisar em laboratório – e descobriram que 27 vírus diferentes estavam presentes ali, todos novos para a ciência. Entre eles, estava inclusive um betacoronavírus – do mesmo gênero de vírus do Sars-Cov-2, o causador da Covid-19.

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    Embora as origens da Covid ainda não sejam totalmente claras, acredita-se que o vírus saltou dos humanos vindo dos morcegos, possivelmente com um intermediário. Não se sabe se o betacoronavírus encontrado no guano de Uganda é capaz de infectar humanos – mas, mesmo assim, só de existir um “parente” do Sars-Cov-2 tendo contato com chimpanzés é alarmante. 

    A pesquisa reforça um fato já sabido pela ciência: desmatamento é grande fator de risco para a saúde pública, já que aumenta o contato dos humanos, direta ou indiretamente, com animais selvagens e, consequentemente, com novos patógenos capazes de gerar doenças inéditas. Outro exemplo que chegou à nós via contato com outras espécies foi a Ebola, um vírus bastante letal.

    “Estudos como o nosso lançam luz sobre os gatilhos e os caminhos da transmissão do vírus da vida selvagem para outros seres selvagens e, depois, para o ser humano, melhorando, no fim, as nossas capacidades de prevenir surtos e pandemias no futuro”, disse Pawel Fedurek, pesquisador da Universidade de Stirling e um dos autores do estudo. 

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