Criada pílula anticoncepcional mensal – que pode ser tão eficaz quanto as diárias
Cientistas descobriram como driblar os ácidos do estômago e fazer com que a droga dure mais tempo por lá. Entenda.
Tomar pílula anticoncepcional com a regularidade correta não é algo fácil. Para ter o efeito pleno, a mulher precisa lembrar de engolir um comprimido todo dia, exatamente no mesmo horário. Resultado? Muitas esquecem e atrasam o ritual. Por essas e outras, 9% das mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais engravidam todos os anos.
Agora, pesquisadores do MIT e do Brigham and Women’s Hospital, nos Estados Unidos, estão desenvolvendo um contraceptivo oral que deve ser tomado apenas uma vez por mês, o que pode reduzir gravidezes indesejadas. É verdade que anticoncepcionais mensais já existem – mas, até agora, todos eram da forma injetável, o que não é confortável para todas as mulheres.
A tarefa de desenvolver um suprimento mais duradouro de hormônios que seja consumido de forma simples, como uma pílula, existe há tempos. Mas o estômago se provou um grande inimigo dessas pretensões: qualquer coisa que ingerimos vai direto para um mar de ácidos (o suco gástrico), que corrói tudo o que humanos costumam engolir. Qualquer tipo de medicação oral, como os anticoncepcionais convencionais, por exemplo, é dissolvido rapidamente por lá e direcionado para ser expelido do corpo. É por essa razão que as mulheres precisam tomar uma pílula todos os dias.
A nova pílula mensal, um método menos invasivo que as injeções, pode trazer o mesmo resultado. Tudo porque os cientistas descobriram como driblar os ácidos do estômago. O pulo do gato foi colocar o contraceptivo em uma cápsula revestida de gelatina, que consegue permanecer no estômago após ser ingerida, e gradualmente libera a droga.
Essa ideia não veio do nada: em estudos anteriores, a mesma equipe já havia testado cápsulas carregadoras de drogas contra doenças como a malária, tuberculose e até o vírus HIV. Mas, para fazer a nova pílula contraceptiva durar de três a quatro semanas no interior do organismo, cientistas precisaram utilizar materiais mais resistentes do que os usados normalmente.
Para testar possíveis candidatos, os pesquisadores colocaram as pílulas em fluido gástrico simulado. Assim, descobriram quais tipos de polímeros seriam mais adequados à tarefa de não dissolver e ir liberando a droga aos poucos.
Até agora, a alternativa não foi testada em humanas – apenas em 6 porcas. Mas, nos experimentos com animais, ficou claro que as cápsulas poderiam liberar a droga a uma taxa razoavelmente constante por até quatro semanas, mantendo a mesma concentração do medicamento no sangue que uma dose diária de anticoncepcionais normais. Quem ficou empolgada com a ideia, porém, ainda precisará aguardar um bom tempo para contar com a tecnologia. Segundo os pesquisadores, é pouco provável que os testes em humanos comecem antes de 2021.