Covid-19 é dez vezes mais letal em pessoas com síndrome de Down, indica estudo
Pesquisadores sugerem que indivíduos com essa condição genética devem ser prioridade para a vacinação.
Idosos, diabéticos e pessoas com doenças respiratórias ou cardiovasculares são tidos como grupos de risco da Covid-19 desde o começo na pandemia. Mas também há outros fatores que podem ser agravantes da doença e ainda estão sendo estudados. A síndrome de Down (SD), que aumenta a suscetibilidade da pessoa à pneumonia, entra nessa lista.
Pesquisadores da Universidade de Oxford, em parceria com outras instituições britânicas, analisaram dados de 8,26 milhões de adultos do Reino Unido. Dentro desse conjunto, havia informações sobre 4053 indivíduos com síndrome de Down. Os cientistas compararam os casos de coronavírus entre as pessoas que tinham a síndrome e aquelas que não tinham, e concluíram que a SD aumenta em dez vezes o risco de morrer por consequência da Covid-19 (e multiplica por cinco os casos de hospitalização relacionados a essa doença). O estudo foi publicado em outubro na revista científica Annals of Internal Medicine.
De acordo com pesquisadores, a própria genética de pessoas com síndrome de Down acaba tornando-as mais suscetíveis ao Sars-CoV-2. Os indivíduos com SD possuem três cópias do cromossomo 21, uma a mais do que o normal. Dentro do cromossomo 21, existe um gene chamado TMPRSS2, e aí é que está o problema: para invadir as células, o coronavírus se conecta a uma enzima que é codificada justamente por esse gene.
As pessoas com síndrome de Down produzem maior quantidade dessa enzima, o que acaba facilitando a ação do vírus.
Esta hipótese foi analisada em junho por pesquisadores do Centro de Regulação Genômica de Barcelona, na Espanha. O estudo, que não passou por revisão por pares, indica que as células de pessoas com síndrome de Down expressam 1,6x mais TMPRSS2 do que as de pessoas sem a alteração genética.
Além disso, o próprio sistema imunológico das pessoas com síndrome de Down pode ser visto como algo negativo durante uma infecção pelo novo coronavírus. O organismo dessas pessoas não desenvolve as células T de forma adequada e os níveis de células B circulantes são baixos. Além disso, o corpo produz interferon – uma primeira linha de defesa contra os vírus – de forma intensa. Em um primeiro momento, a resposta do interferon pode ser positiva contra a Covid-19, mas sua atividade elevada pode causar uma desregulação do sistema imune, desencadeando a chamada tempestade de citocinas, que pode tornar o quatro fatal em cerca de uma semana.
Em um estudo publicado no jornal acadêmico Cell Reports, pesquisadores mostraram que o medicamento baricitinibe foi capaz de bloquear essa alta onda de interferon em camundongos com trissomia do 21. A Food and Drug Administration, agência reguladora dos EUA, liberou o remédio, em combinação com o remdesivir, para uso emergencial em pacientes com Covid-19. Mas vale ressaltar que não houve testes em larga escala em humanos ou qualquer comprovação de que o medicamento funciona para além dos ratos.
Diante dessas pesquisas, a Trisomy 21 Research Society International, uma organização científica que estuda a condição genética, tem solicitado que pessoas com SD, principalmente as maiores de 40 anos, tenham preferência para a vacinação. No dia 2 de dezembro, o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido também recomendou que esse grupo fosse priorizado. No entanto, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) ainda não adicionou a SD na lista de condições que aumentam os riscos de Covid-19. De acordo com o CDC, ainda não há evidências suficientes para tal.