Corais preferem ingerir plástico em vez de sua comida habitual
A preferência por junk food não é exclusiva aos humanos – e, se virar moda, pode prejudicar populações inteiras de corais.
Os corais são como “florestas tropicais” aquáticas: abrigam uma extraordinária variedade de plantas e animais e são considerados o habitat mais diverso do mundo marinho. Para você ter ideia, mais de 25% da vida nos oceanos (e cerca de 65% de todas as espécies de peixes) dependem deles.
Agora, imagine se esse ecossistema tão importante resolve comprometer todo mundo se entupindo de junk food? Cientistas americanos descobriram, pela primeira vez, que alguns corais selvagens podem efetivamente se alimentar de pequenos pedaços de lixo plástico. Mas fica pior do que isso. Os animais parecem preferir os “microplásticos” em vez de seus alimentos de sempre – mesmo quando o plástico carrega bactérias que podem matá-los.
Os resultados do estudo que revelou esse paladar suicida dos corais, conduzido por pesquisadores da Universidade de Boston, foi publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences. Nele, os cientistas investigaram quatro colônias de Astrangia poculata selvagens, um pequeno coral que forma colônias menores que um punho humano e vive da costa dos Estados Unidos banhada pelo Oceano Atlântico.
Os pesquisadores escolheram a região de Rhode Island porque ela é rica em corais que vivem próximos a um ambiente urbano – algo que os torna mais suscetíveis à poluição de lixo plástico. Analisando as amostras selvagens em laboratório, os cientistas encontraram mais de 100 pequenas fibras de microplástico em cada pólipo – nome dado a cada um dos indivíduos que formam uma colônia.
Depois disso, a equipe fez um experimento em laboratório a fim de testar o paladar dos corais. Funcionou assim: primeiro, pesquisadores coletaram algumas das colônias de corais e as expuseram a possíveis “alimentos”. O banquete contava com microplásticos, ovas de camarão (que costumam ser um menu típico desses corais) ou uma mistura dos dois.
Em outro teste, microesferas plásticas revestidas com bactérias letais foram oferecidas aos bichinhos. De acordo com os pesquisadores, a maioria dos microplásticos presentes em Rhode Island provavelmente é coberta por esses micróbios.
Após deixar os corais fazerem uma boquinha no bufê marinho, a equipe averiguou o que eles tinham ingerido. A resposta foi surpreendente: absolutamente todos os corais testados tinham comido microplásticos. Plásticos no formato de fibras foram os preferidos, aparecendo em 73% dos menus contaminados montados pelos corais. Partículas redondas de plástico, por sua vez, foram a escolha de 15% das cobaias.
“Fiquei totalmente chocada com os resultados”, disse a coautora do estudo, Jessica Carilli, em entrevista à National Geographic. “Eles não estão apenas comendo passivamente quaisquer partículas que flutuam ao alcance de seus tentáculos… eles infelizmente preferem o plástico à comida de verdade”.
A degradação de partículas plásticas, na natureza, pode levar de 500 a 1.000 anos. Isso significa que quase todo o plástico criado pelo homem ainda existe na Terra. Muitas vezes, esse material está na forma de partículas menores, com menos de 5 milímetros, e que podem parar facilmente no estômago de várias espécies – incluindo, claro, as que são fãs de corais.
Segundo os cientistas, as descobertas podem sugerir que corais tropicais comuns, que constroem recifes próximos a áreas populosas (como os da costa do Brasil), também podem estar consumindo esses lixos – e sendo prejudicados pelo hábito. E nem dá pra torcer para que eles decidam incorporar uma dieta livre de plásticos – principalmente enquanto o homem continuar enchendo os oceanos com eles.