Conheça o trabalho da matemática brasileira Jaqueline Mesquita
No #MulherCientista desta semana, conversamos com uma pesquisadora da UnB que cria equações capazes de descrever o câmbio monetário, o crescimento populacional e até o avanço da pandemia.
Quem acompanha o Instagram da SUPER já conhece o #MulherCientista: a seção em que nós explicamos a vida e obra de mulheres lendárias (e esquecidas) do mundo acadêmico. Agora, em vez de contar a história de mulheres do passado, nossa repórter @m.clararossini vai entrevistar cientistas brasileiras do presente – e entender suas contribuições para um país em que a ciência anda tão negligenciada. Esses posts vão passar a aparecer também no nosso site. Este é o primeiro da série. Até o próximo final de semana!
Quando você se pergunta se pode estar transmitindo o coronavírus, não basta saber se você contraiu o vírus hoje. De acordo com a OMS, o tempo de incubação do SARS-Cov-2 geralmente é de 5 dias, mas pode variar entre 1 e 14 dias. O seu estado de saúde atual é condicionado por aquela saída que você deu na semana passada, e não pela voltinha de hoje de manhã. Em outras palavras, não é o presente que determina a resposta para essa pergunta, e sim o passado.⠀
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De fato, poucos fenômenos têm desdobramentos imediatos. Existe uma diferença de tempo entre uma ação e a consequência dela. Ao estudar o aumento populacional de um país, por exemplo, é preciso considerar que um bebê não tem capacidade de gerar outra criança assim que nasce – o amadurecimento sexual do indivíduo leva mais de uma década. ⠀
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Os matemáticos chamam esse delay entre causa e consequência de “retardamento”. E são capazes de incluir o retardamento como uma variável em equações chamadas “diferenciais”, que são utilizadas para simular o impacto de determinadas ações passadas (como usar máscara ou furar a quarentena) na situação atual. A matemática é uma linguagem que descreve o mundo, quanto mais variáveis consideramos, mais precisa se torna essa simulação numérica da realidade. ⠀
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Jaqueline Mesquita, a matemática ali da foto, é professora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em equações diferenciais com retardamento. Ou seja, ela não trabalha com epidemiologia nem com aumento populacional – e sim nos bastidores dessas áreas, produzindo as ferramentas matemáticas que serão empregadas por outros profissionais.
Resolver equações diferenciais como essas apresenta alguns desafios. O primeiro é que elas precisam ser analisadas em períodos delimitados, como quinzenas, para se tornarem viáveis na prática. Afinal, o passado é infinito, e não dá para fazer uma conta infinita.
Outro percalço na tarefa de incluir o retardamento nas equações de maneira realista é que ele quase nunca é constante. Esse delay entre causa e consequência pode flutuar por vários motivos. Por exemplo: na maioria das pessoas, o tempo de incubação do coronavírus é de 5 dias, mas ele pode durar até 14 dias. Da mesma forma, o avanço de uma doença dentro do organismo, como o câncer, não será igual para todos os pacientes.
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O tempo de retardo dependerá do estado em que ele se encontra: quem foi diagnosticado em um estágio inicial terá um avanço mais lento, enquanto quem já está em um estágio avançado verá a doença avançar mais rápido. Para simular situações assim, Jaqueline se especializou justamente equações diferenciais com retardamento não constante. Em vez de estudar o avanço do câncer, ela analisou outra área em que retardamentos parecidos acontecem: o câmbio monetário. São trabalhos como esse que aproximam, cada vez mais, a linguagem matemática à descrição da realidade.⠀