Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Como estruturas romanas permanecem tantos séculos em pé?

O segredo é um material especial - um concreto à base d'água que fica mais forte com o passar do tempo

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
4 jul 2017, 16h27

Quase dois mil anos após o final de sua construção, em 128 d.C., o Panteão de Roma está de pé e muito bem, obrigado. Seu pórtico, com oito colunas coríntias de granito, sem dúvida é épico. Mas nada supera sua cúpula de concreto, com 43,3 metros de altura e – para agradar os amantes de proporções – 43,3 metros de diâmetro. É a maior estrutura de concreto não-reforçada do mundo.

Nas palavras do site romanconcrete.com (que, acredite se quiser, é inteirinho dedicado ao tema): “o prédio foi todo construído sem o reforço de vigas de aço para resistir a rachaduras por tensão. É incrível que um domo de concreto desse tamanho tenha durado séculos. Hoje, nenhum engenheiro ousaria construir uma estrutura dessas (…) Códigos modernos da prática da engenharia não permitiriam esse descuido.”

O que deixa no ar uma pergunta: como é que esse milagre arquitetônico sobreviveu a tudo – das invasões bárbaras às duas guerras mundiais – e continua em uso atualmente?

A versão curta da resposta é surpreendente: água do mar. Quem está atrás da versão longa é a geóloga Marie Jackson, da Universidade de Utah. Ela começou sua pesquisa dando uma olhada na lista de ingredientes dos templos, portos e aquedutos romanos que resistiram por séculos. Já se sabia há algum tempo que os ingredientes básicos do concreto da antiguidade eram cinza vulcânica, óxido de cálcio, água salgada e pedaços maiores de rochas vulcânicas.

Depois, Jackson e sua equipe decidiram olhar mais de perto as reações químicas que ocorriam no material após sua consolidação – afinal, a receita em si não basta para explicar a durabilidade: diferentes composições podem resistir melhor ou pior à passagem do tempo. Foi aí que veio a revelação. Com o passar dos anos, a água reage com o material vulcânico, e esse tipo de corrosão, em vez de enfraquecer a estrutura, aumenta sua rigidez.

Continua após a publicidade

Mágico, principalmente em cidades litorâneas. Afinal, água mole em concreto romano tanto bate que deixa ele… ainda mais forte. Pena que essa lista de elementos é bastante genérica. A receita detalhada, que seria muito útil para uma série de aplicações contemporâneas, se perdeu. “A pesquisa abre uma perspectiva completamente nova sobre como o concreto pode ser fabricado. Fenômenos que hoje consideramos corrosão na verdade podem produzir um cimento mineral extremamente benéfico e aumentar a resiliência com o passar do tempo”, afirmou Jackson ao jornal britânico The Guardian.

Do ponto de vista técnico, o segredo é um minério razoavelmente difícil de se produzir em condições experimentais. Seu nome é torbemorita, e, conforme já mencionado, ela nasce de uma reação que produz calor entre a água, o óxido de cálcio e a cinza vulcânica – que, em geral, consiste em minúsculas partículas de vidro. A fórmula da torbemorita não é nada inocente – Ca5Si6(O; OH)18  · 5H2O segundo o Handbook of Mineralogy –, então a SUPER não vai tentar aflorar seus traumas de ensino médio colocando a reação completa por aqui. 

O importante para quem não gosta de química é que essa reação ocorria logo nos primeiros anos de consolidação do material, e eventualmente parava. Mas Jackson percebeu que, em estruturas da antiguidade clássica que passaram os últimos dois milênios em contato com a água do mar, a torbemorita na verdade continuava se formando sem interrupção – dessa vez em dupla com outro mineral, chamado phillipsita (o nome curioso é uma homenagem ao geólogo inglês William Phillips).

No artigo científico, publicado no periódico American Mineralogist, ela e sua equipe estabeleceram que conforme as ondas dissolvem os cristais e vidros vulcânicos originais, eles são substituídos em uma lenta e eterna reação química por cada vez mais torbemorita e phillipsita. “Há muitas aplicações possíveis, mas precisamos de mais trabalho para recriar essas misturas. Já começamos, mas precisamos de ajustes mais delicados”, afirmou a pesquisadora. “O desafio é desenvolver métodos que usem produtos vulcânicos comuns – e é exatamente isso que estamos fazendo agora.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.