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Como detectar vida alienígena? Caçando mundos com uma molécula fedorenta

Cientistas descobriram que a fosfina, composto que cheira a peixe podre, pode ser uma das nossas melhores chances de achar seres extraterrestres.

Por A.J. Oliveira
Atualizado em 19 dez 2019, 19h33 - Publicado em 19 dez 2019, 19h32

Pense numa substância que faz boa parte das criaturas que vivem no planeta Terra terem ânsia de vômito — pelo menos, as que possuem essa capacidade (as que não têm costumam apenas querer evitá-la a todo custo). Esse composto de odor pútrido se chama fosfina (ou ainda fosfano, ou fosfamina), e é achada em pântanos e nos sedimentos de lagos – mas também é presença garantida nos intestinos e nas flatulências de muitos animais.

Pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), passaram os últimos anos estudando a fundo essa molécula tóxica que cheira a peixe podre, feita de um átomo de fósforo e três de hidrogênio. Eles descobriram que nem toda vida sente repulsa por ela — só a que funciona à base de oxigênio (organismos aeróbicos). Já os anaeróbicos, micróbios extremos, produzem a fosfina em abundância e convivem com ela numa boa.

A equipe liderada pela astroquímica quântica Clara Sousa-Silva conduziu uma extensiva análise para descartar outras possíveis fontes produtoras de fosfina. A conclusão foi categórica: a molécula é criada exclusivamente pelo metabolismo dessas bactérias e outros organismos microscópicos. Isso tem implicações animadoras para a astrobiologia, especialmente para a busca por vida fora da Terra, na qual a fosfina tem imenso potencial.

“Siga aquele cheiro!”

Por ser produzida somente por seres vivos, a substância funciona como uma espécie de bioassinatura infalível — se detectada na atmosfera de um exoplaneta rochoso, ela indica necessariamente a existência de vida extraterrestre. Há outros elementos, como o oxigênio e o metano, que são igualmente criados pela atividade metabólica, mas acontece que eles também podem ter origem em processos geoquímicos, o que aumenta bastante a incerteza.

No artigo publicado em uma edição recente da revista científica Astrobiology, os cientistas explicam que, se a fosfina for sintetizada em um exoplaneta na mesma quantidade que o metano é na Terra, ela geraria uma “impressão digital” inconfundível na luz que atravessa a atmosfera do mundo e chega até nós. Achou complicado? A boa notícia é que a próxima geração de supertelescópios será sensível o bastante para detectar essa assinatura em um raio de 16 anos-luz do Sistema Solar.

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A fosfina está longe de ser a única bioassinatura conhecida. O próprio time do MIT está organizando um extenso catálogo com todas as possíveis candidatas — já são mais de 16 mil. A grande maioria ainda precisa ser caracterizada em detalhes – mas nenhuma delas se equipara à fosfina. Ela é a única que permite uma conclusão sem margem de dúvida de que o planeta que a contém deve abrigar algum tipo de vida. 

Outra contribuição do estudo é mostrar o caminho das pedras a outros cientistas que queiram testar as demais 16 mil. “Acho que a comunidade científica precisa filtrar essas candidatas em algum tipo de ordem de prioridade”, disse Sousa-Silva em comunicado. “Mesmo se algumas dessas moléculas forem de fato faróis fracos, se pudermos determinar que somente a vida pode enviar aqueles sinais, então me parece que sejam uma mina de ouro.”

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