Como a vida de Werner Heisenberg pode inspirar a sua
"Temos de nos lembrar de que o que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso método de questionamento"
É uma daquelas coisas que parece ficção, tamanha coincidência. Mas Heisenberg é uma figura que gera incertezas tão grandes sobre o que devemos pensar dele como as que se vê no mundo subatômico que ele ajudou a desvendar. Dessa maneira, vemos um casamento incrível entre vida e obra do cientista para efeito de tentarmos dela extrair alguma lição para nós mesmos: em essência, ambas dizem que a verdade depende essencialmente do seu ponto de vista.
A luz é uma partícula ou uma onda? Maxwell a elucidou como onda de forma perfeita, com todos os fenômenos associados a ela testados e observados. Então Einstein ressuscita a noção de partícula, explicando com isso o efeito fotoelétrico, razão pela qual ganhara o Prêmio Nobel. E esse dilema passou a atormentar os físicos. Afinal, a luz é uma onda ou uma partícula? Com Heisenberg e o desenvolvimento da mecânica quântica, teremos uma resposta que pareceria absurda, não fosse verdadeira. Na natureza, conforme demonstraria Louis de Broglie, outro dos gigantes da área, a luz é onda e também é partícula – ao mesmo tempo. E você vai observá-la de um jeito ou de outro dependendo do experimento que realizar.
De forma ainda mais dramática, com a formulação do princípio da incerteza, em 1927, Heisenberg coloca uma barreira intransponível entre o conhecimento da natureza e sua realidade ulterior. Ele demonstra que, se você sabe a velocidade de uma partícula com absoluta precisão, não pode saber sua posição. E vice-versa. Não é só mais uma questão de a natureza ser uma coisa ou outra, de acordo com o que perguntamos a ela. Passa a ser o fato de que você não pode saber tudo sobre ela, não importa o quanto queira. Você pode ter uma informação aproximada sobre a posição e sobre a velocidade, mas se começar a tentar obter mais precisão num dos parâmetros, automaticamente perderá no outro. E sabe por quê? Porque, ao realizar seu estudo, você necessariamente altera o resultado, impedindo que se possa fazer uma determinação independente do seu procedimento. O experimentador altera o resultado da experiência.
Isso é muito, muito louco. É a demonstração de que a realidade que observamos depende fundamentalmente de como a questionamos. Em resumo: o mundo é uma coisa diferente da nossa compreensão dele. A matemática da mecânica quântica nos diz o que devemos esperar de um experimento, em termos de prováveis desfechos, mas não diz o que é a realidade fundamental que antecede qualquer experimento. A natureza se torna probabilística, não determinística, e dá um nó na cabeça dos físicos. Toda a ciência clássica se ancorava no fato de que era possível prever o estado futuro de um sistema com base no conhecimento do estado passado. A mecânica quântica rompe com esse preceito, dizendo que o melhor que se pode fazer é estabelecer a probabilidade com que um sistema vá ter tal e tal desfecho.
Claro, um agregado de partículas quânticas acabam produzindo os efeitos clássicos que observamos – podemos prever o futuro de um sistema com base em seu passado porque, embora seus componentes mínimos ajam de forma probabilística, a soma deles pode ser tratada de forma clássica.
Isso aí é pano para a manga. Dá livros e livros de filosofia. Mas aqui, para nós, no dia a dia, o que isso nos diz?
Acredito que uma lição importante é a de que a solução de problemas depende intrinsecamente da forma como eles são formulados. Por vezes tropeçamos numa situação que nos parece insolúvel ou cujas soluções elencadas nos soam todas insatisfatórias. Mas será que não existe um vício de raciocínio aí, que parte da formulação do próprio problema?
Heisenberg nos oferece um lampejo que pode ser útil. Se você não gosta das soluções possíveis, que tal mudar o problema em si? Talvez uma maneira diferente de encará-lo permita enxergar uma saída que de antemão, pelo vício da formulação, não podia ser vista.
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