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Como a vida de Landell de Moura pode inspirar a sua

"Quando todos eram contra mim, eu contentava-me em conservar-me no meu terreno, e dizia: é assim; não pode ser de outro modo"

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 9 abr 2017, 13h58 - Publicado em 7 abr 2017, 19h12

Duas características em particular chamam a atenção na fascinante –  e pouco conhecida – história desse grande inventor brasileiro.  A primeira delas é a compatibilização entre ciência e fé, algo que já havia sido demonstrado antes por muitos pesquisadores religiosos, fossem eles leigos ou pertencentes a alguma estrutura eclesiástica. Landell, a exemplo de muitos de seus predecessores, não via o menor conflito que fosse entre suas investigações da natureza e a religião que seguia. Contudo, encontrou  muita incompreensão pelo caminho por conta disso. Sofreu preconceito  e teve de travar uma dura e insistente batalha contra o obscurantismo, para demonstrar que não estava praticando nenhuma heresia ou forma de feitiçaria. Mais uma vez, como costuma acontecer nesses casos,  ele acabaria tendo seu valor reconhecido – mas somente depois  de seu próprio tempo.

Landell tinha profunda identificação com Galileu, com quem partilhava o valor do livre pensar.  De forma não muito surpreendente –  e apesar de ser padre, coisa que Galileu não era –, ele também teve problemas com a Igreja. Seu interesse por fenômenos parapsicológicos, envolvendo temas como mediunidade e meditação, incomodavam muitos de seus pares eclesiásticos. E o padre jamais faltou com a coragem de dizer o que pensava. Defendia, por exemplo, o fim do celibato para sacerdotes, considerando os homens da Igreja tão humanos quanto quaisquer outros. Vez por outra, tomou um pito de autoridades superiores, que o aconselharam a tratar somente da doutrina canônica, sem enveredar por assuntos controversos. Mas Landell era acima de tudo um pensador. Chegou a escrever uma obra sob pseudônimo justamente para  evitar problemas.

A segunda característica – e sem dúvida a mais importante – que marcou a vida de Landell de Moura foi sua persistência inabalável. Ela foi absolutamente necessária não só para evitar qualquer esmorecimento diante da ignorância reinante, mas também para permitir que ele prosseguisse em seus trabalhos mesmo num ambiente em que nada o favorecia.

Não fosse a queda do Império, talvez o padre Landell tivesse obtido melhor sorte. Afinal, Dom Pedro 2º era um entusiasta da ciência e da tecnologia e provavelmente teria apresentado os meios para que seus trabalhos pudessem prosseguir. Sob o recém-nascido regime republicano, o inventor não encontrou o mesmo nível de apoio. E com isso o Brasil perdeu a oportunidade de se tornar o berço, do ponto de vista prático, de algumas das invenções que marcaram profundamente a trajetória do século 20: com certeza, o rádio e, se houvesse suficiente suporte, até mesmo a televisão poderia ter sido levada a termo pela genialidade de Landell.

Coube a outros, com mais suporte de seus países e maior capacidade de arregimentar o interesse popular, realizar esses feitos. Mas é importante lembrar que Landell não se resignou às más condições. Fez tanto quanto pôde para desenvolver seus inventos e proteger sua propriedade intelectual. Viajou aos Estados Unidos, e patenteou lá alguns de seus inventos, como um “transmissor de ondas”, um “telefone sem fio” e um “telégrafo sem fio”, todas concedidas em 1904. No mesmo ano começou a trabalhar num projeto para transmissão de imagens.

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Landell teve reconhecimento em sua estada nos Estados Unidos, chegando a ser mencionado no jornal New York Herald como o inventor do rádio e do telefone sem fio, e diz-se que houve ofertas de milionários para que desenvolvesse seus inventos em solo americano, mas o padre teria dito que “os inventos já não mais me pertencem”. E concluiu: “Por mercê de Deus, sou apenas o depositário deles. Vou levá-los para minha pátria, o Brasil, a quem compete entregá-los à humanidade”.

Infelizmente, isso nunca aconteceu. Mas nem por isso o desprendimento de Landell deixa de ser inspirador.

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