Como a vida de Isaac Newton pode inspirar a sua
"Eu posso calcular o movimento dos corpos celestes, mas não a loucura das pessoas"
Não houve neste planeta maior poder de sistematização, imposição de uma ordem racional clara, do que o de Isaac Newton. Pense comigo: esse foi o cara que enrijeceu o próprio cosmos, traduzindo-o em conceitos absolutos e universais! Em sua necessidade de estabelecer princípios básicos para a disciplina que viria mais tarde a ser conhecida como “física”, ele definiu entidades como espaço e tempo e então usou essas definições inflexíveis como plataforma para investigar as leis de movimento, a gravidade, a luz e outros fenômenos que até hoje encantam e desafiam a compreensão dos físicos.
Newton claramente tinha um comportamento obsessivo, e sua necessidade de “enxergar” a ordem subjacente ao mundo foi o que permitiu que ele avançasse tanto e criasse uma visão de mundo que não seria alterada pelos 3 séculos seguintes – até que Einstein entrou no jogo e mudou essa história.
Em certo sentido, o trabalho de Newton foi de fato uma continuação do que já estava rolando desde Copérnico, ensejando a famosa frase segundo a qual ele só teria enxergado mais longe por ter se colocado “sobre os ombros de gigantes”. Sua teoria da gravitação, por exemplo, em muito dependeu dos avanços feitos anteriormente por Galileu e Kepler.
Ainda assim, seu esforço reducionista pautou a ciência de tal modo que é difícil imaginar os avanços que tivemos desde o tempo de Newton não tivesse ele lançado essas bases. Ele também foi o primeiro a fazer avanços concretos na direção de seriamente compreendermos o “todo” que nos cerca. Sua teoria se referia à gravitação universal não por acaso. Era uma lei que tinha validade em todas as partes do cosmos.
Por outro lado, não consigo evitar pensar que essa mesma rigidez intelectual de Newton, que o tornou essa figura maiúscula e extraordinária na história do conhecimento científico, também fez dele uma criatura muito amarga e infeliz.
É fato que, desde praticamente o nascimento, o jovem Isaac não encontrou ambientes acolhedores, nem teve uma infância fácil ou particularmente amorosa. Mas a combinação de sua estrutura de pensamento sistemática com essa impressão pessoal de permanente desconfiança e conflito tornou-o um homem impiedoso, implacável e, em última análise, rígido demais para seu próprio benefício.
O que é rígido, por definição, não tem resiliência. Ou seja, não consegue se conformar a uma situação e então voltar à sua forma original, sem sofrer grandes danos. Diante de um impacto, um objeto rígido pode ter dois desfechos: ou ele resiste por inteiro, ileso, ou se quebra de uma vez. Todos nós sabemos que, ao longo da vida, necessariamente seremos expostos a uma grande sequência de impactos (no sentido metafórico, claro). A rigidez absoluta, portanto, não é uma boa característica sobre a qual construir nossa trajetória.
Com efeito, Newton passou a vida inteira brigando e – no mais das vezes – esmagando seus rivais. Escrevia obras incríveis e tinha medo de expô-las, tão somente pela insegurança de submetê-las ao escrutínio público. Pela rigidez, temia os impactos. E, ao sofrê-los, partia para um ataque feroz. Não reagia bem a qualquer disputa de prioridade e nunca teve postura apaziguadora. Era sempre tão rígido quanto seus próprios princípios, em tese, admiráveis.
Newton nos ensina o oposto do que viveu: não se leva uma boa vida partindo-se de absolutos. É preciso ter jogo de cintura e saber não levar tudo a ferro e fogo, sob pena de terminarmos como ele: brilhantes, reconhecidos, bem-sucedidos, mas ao mesmo tempo amargos, isolados e insatisfeitos.
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