Cientistas reativam células sensíveis à luz em olhos de pessoas mortas
Descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novas terapias para doenças que causam cegueira.
Em um novo experimento, cientistas reativaram células sensíveis à luz (chamadas fotorreceptores) em olhos de pessoas mortas que eram doadores de órgãos, e restauraram a comunicação entre essas células. O estudo, cujas descobertas podem revolucionar pesquisas sobre a visão e o cérebro humanos, foi publicado neste mês na revista Nature.
“Conseguimos fazer as células da retina falarem umas com as outras [após a morte dos doadores], da mesma forma que fazem no olho vivo para mediar a visão”, afirma Frans Vinberg, um dos autores do estudo.
Segundo o cientista da Universidade de Utah (Estados Unidos), estudos anteriores já haviam restaurado de forma muito limitada a atividade elétrica em olhos de doadores, mas isso ainda não tinha sido alcançado na mácula – uma parte bastante sensível (e pequena) da retina.
Nessa região dos olhos, há uma concentração de cones, um tipo de fotorreceptor responsável por nossa visão central e capacidade de ver detalhes e cores. Eles atuam junto aos bastonetes – fotorreceptores relacionados à visão periférica e noturna –, reconhecendo estímulos visuais no ambiente e os transformando em impulsos elétricos.
No estudo, os cientistas usaram a retina como modelo do sistema nervoso central para entender como os neurônios morrem e como podem voltar à ativa. As investigações da equipe partiram de retinas de camundongos e de humanos também – estas obtidas junto a bancos de olhos americanos e sociedades de doadores de olhos.
Falta de oxigênio precisava ser resolvida
Primeiro, os cientistas perceberam que a perda de comunicação entre os fotorreceptores e a retina após a morte acontece principalmente por conta da privação de oxigênio no organismo. Então, Vinberg desenvolveu uma unidade de transporte especial para restaurar a oxigenação e fornecer outros nutrientes aos olhos de doadores.
A equipe transportou os olhos nessa unidade especial e os colocou em um dispositivo projetado para estimular a retina e medir a atividade elétrica de suas células. “Em olhos obtidos até cinco horas após a morte de um doador de órgãos, estas células responderam à luz brilhante, luzes coloridas e até mesmo flashes de luz muito fracos”, afirma Fatima Abbas, pesquisadora do Moran Eye Center (também da Universidade de Utah) e autora principal do estudo.
Os pesquisadores acreditam que a abordagem pode ser usada para estudar outras estruturas do sistema nervoso central e reduzir a dependência de modelos animais para pesquisas semelhantes – que nem sempre produzem resultados que se aplicam bem à visão humana.
Também é esperado que o trabalho desses cientistas possa ajudar na compreensão de doenças neurodegenerativas e no desenvolvimento de novas terapias para doenças que causam cegueira.