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Cientistas podem ter encontrado vestígios de uma nova espécie de hominídeo

Ainda é cedo para bater o martelo, mas os fósseis apontam para um hominídeo com combinação anatômica diferente das espécies já conhecidas – com dentes grandes e ossos do corpo pequenos.

Por Carolina Fioratti
5 jan 2021, 10h47

Em 2015, uma nova espécie de hominídio foi anunciada à comunidade científica: o Homo naledi, descoberto por pesquisadores da Universidade de Witwatersrand enquanto exploravam a caverna Rising Star, na África do Sul. Agora, esse mesmo grupo afirma ter encontrado vestígios arqueológicos do que pode ser uma segunda espécie, ainda sem nome.

Durante a expedição que descobriu o Homo naledi, em 2014, os cientistas resolveram dar uma volta pelas redondezas da Rising Star. A uma caminhada curta dali, chegaram a uma outra caverna, batizada de UW 105. Naquele local, encontraram uma mandíbula de hominídeo com um único dente, mas não deram importância ao fóssil. Naquele momento, as descobertas feitas na Rising Star eram prioridade. 

Em 2020, os cientistas tiveram a chance de voltar à UW 105. Lee Berger, paleoantropólogo envolvido na expedição, disse à New Scientist que foram recolhidas entre 100 e 150 evidências ósseas na caverna nos últimos meses, incluindo pedaços de crânio, escápulas, dentes e outros ossos dos membros inferiores e superiores de hominídeos. Os ossos encontrados parecem pertencer a quatro indivíduos distintos, sendo dois adultos e dois adolescentes. 

Mas os dentes destes hominídeos são grandes demais para se encaixar nos padrões das espécies já conhecidas, como o H. naledi ou o Australopithecus sediba. O mais próximo seria o fóssil de um molar encontrado na caverna Gondolin, também na África do Sul. Acredita-se que esse pertença ao Paranthropus robustus, hominídeo que viveu entre 1 e 2 milhões de anos atrás. De toda forma, ainda é cedo para conclusões.

Dentes grandes costumam remeter a hominídeos primitivos, que mastigavam plantas duras, mas Berger reforça que a evolução não ocorre em linhas retas – e que características primitivas podem aparecer também em espécies recentes. Um exemplo é o próprio H. naledi, que viveu há apenas 250 mil anos, mas apresentava um crânio pouco maior que o do chimpanzé. 

Tracy Kivell, pesquisadora da Universidade de Kent, no Reino Unido, que colabora com Berger, explicou que os dentes encontrados são todos grandes, enquanto os ossos do corpo são pequenos, remetendo a um hominídeo esguio. Essas características anatômicas afastam a espécie daquelas já conhecidas por dois motivos: hominídeos de dentes grandes não costumam ser esguios; e o P. robustus, o qual chegou mais próximo em aparência, tinha apenas os dentes posteriores grandes.

Ainda não é possível afirmar se as evidências encontradas na caverna UW 105 pertencem ou não a uma nova espécie. A descoberta também ainda não foi publicada em um periódico revisado por pares. Por enquanto, os pesquisadores aguardam resultados de análises que devem trazer mais informações sobre os fósseis, incluindo a idade das rochas em que os ossos foram encontrados.

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