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Ciência descobre como o zika age no cérebro dos bebês

Estudos nos EUA e no Brasil revelam que o vírus mata boa parte das células - e escraviza as demais

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 nov 2016, 19h11 - Publicado em 7 mar 2016, 13h15

Aedes aegypti
A descoberta, que fortalece a ligação entre o vírus e a microcefalia, foi feita por um grupo de cientistas de três universidades americanas (Johns Hopkins, Flórida e Emory). O estudo, que acaba de ser publicado na revista Cell, usou células-tronco, ou seja, que têm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula humana. Elas foram induzidas a se transformar em “células progenitoras neurais”, que dão origem a neurônios. Em seguida, foram colocadas em contato com o vírus zika durante duas horas. Os cientistas esperaram três dias, e analisaram o resultado – que foi dramático. 

Praticamente todas as células (90%) haviam sido infectadas pelo vírus. Um terço delas estava morta, e as demais tiveram o desenvolvimento prejudicado. Isso significa que, na prática, elas teriam dificuldade em evoluir e se transformar em neurônios – o que pode explicar a má-formação cerebral típica da microcefalia. Além disso, as células que sobreviveram se transformaram em multiplicadoras do zika, liberando cópias do vírus e reforçando a infecção.   

O estudo também constatou que o zika não têm o mesmo efeito sobre células cerebrais já formadas – o que pode explicar porque ele não afeta o cérebro de adultos, que já está desenvolvido. Os autores do estudo americano ressaltam que ele não é uma prova definitiva de que o zika causa microcefalia; mas admitem que ele aponta nessa direção.  

O efeito do zika sobre o cérebro foi comprovado por outro estudo, que foi realizado pela UFRJ em parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa, do Rio de Janeiro, e também acaba de ser publicado. A experiência também usou células-tronco, que foram reprogramadas para se transformar em células cerebrais, e infectadas com o zika. Na pesquisa brasileira, 40% das células foram mortas ou tiveram o crescimento afetado pelo vírus.

Mas não há apenas más notícias envolvendo o zika. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz, revelado ontem à noite pelo programa Fantástico, da TV Globo, aponta que o Aedes aegypti tem certa dificuldade em transmitir o zika. De cada 100 mosquitos infectados com o vírus, em média 20 conseguirão incubá-lo e transmiti-lo para outra pessoa – porque em apenas 20% dos casos o vírus consegue se reproduzir em quantidade suficiente para infectar a saliva do mosquito. Isso é metade da taxa de retransmissão do vírus da dengue (40 em cada 100 mosquitos infectados conseguem repassá-lo), e menos de um terço da taxa de retransmissão do chikungunya (70 em cada 100 mosquitos infectados podem repassá-lo).

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