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Chegada de europeus à América pode ter marcado a atmosfera terrestre.

Graças a bolhinhas de ar presas no gelo, sabemos como as epidemias e o uso da terra impactaram os níveis de gás carbônico no ambiente.

Por Maria Clara Rossini
7 mar 2024, 16h25

O gelo é uma boa maneira de estudar o passado climático. Quando as estruturas glaciais estão em formação, elas armazenam informações sobre a atmosfera da época – níveis de CO2, temperatura, precipitação, atividade vulcânica, entre outras. Essa área de pesquisa é chamada paleoclimatologia.

Informações sobre a composição atmosférica, por exemplo, ficam guardadas em bolhas de ar presentes no gelo. Os cientistas usam esse ar para analisar as concentrações de cada composto presente na época em que o gelo se formou. Assim, é possível fazer correlações com eventos históricos que podem ter impactado o clima.

Foi isso que pesquisadores da British Antarctic Survey e da Universidade de Cambridge fizeram. Eles analisaram uma elevação de gelo antártica chamada Skytrain Ice Rise. A maneira de fazer isso é, literalmente, cavar e retirar um cilindro de gelo para análise. Quanto mais fundo estiver a porção de gelo, mais antiga ela é.

A intenção foi analisar a presença de metano (CH4) e gás carbônico (CO2) na atmosfera entre os anos 1450 e 1700 d.C. Isso equivale a uma extensão de 83,2 a 104 metros de profundidade. Nessa época, acredita-se que houve uma reorganização do uso da terra nas Américas devido à chegada dos europeus. 

A análise sugere que houve uma redução gradual dos níveis de gás carbônico entre 1516 e 1670. A concentração caiu 0,5 partes por milhão por década nesse período. O motivo, de acordo com os cenários propostos, tem a ver com a diminuição da população nativa da América. Com os europeus chegaram também novas doenças, para as quais a população local não tinha anticorpos. A mais agressiva delas foi a varíola, uma das doenças que mais matou pessoas na história.

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O resultado disso foi uma redução das áreas previamente ocupadas por indígenas. Com as mortes, regiões que eram antes povoadas ficaram vazias, permitindo que a floresta crescesse naturalmente, preenchendo o espaço. Com mais árvores, mais CO2 é absorvido no processo de fotossíntese. Segundo o artigo publicado na Nature Communications, 2,6 gigatoneladas de gás carbônico “extra” foi absorvido pelas florestas nesse período.

Outras medições

Essa teoria não é nova: medições do West Antarctic Ice Sheet (camada de gelo da Antártica) também mostravam essa redução gradual de gás carbônico. Só que as informações de um outro pedaço de gelo, chamado Ice Dome, apresentava um cenário diferente: uma queda rápida ao longo de 90 anos, atingindo a menor concentração no ano 1610.

A nova pesquisa corrobora com as medições do West Antarctic Ice Sheet. Os pesquisadores escrevem que a queda abrupta de CO2 observada no Law Dome é incompatível mesmo com os eventos mais extremos de uso de terra. Mesmo assim, eles ressaltam que o registro guardados no Law Dome poderiam ser explicados por algum evento ainda não conhecido.

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