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“Casaquinhos” de cera protegem essas libélulas do aquecimento global

Chamada de polinosidade, essa capa de cera surgiu como um mecanismo para o acasalamento, mas pode ser a chave para esses animais sobreviveram às mudanças climáticas.

Por Caio César Pereira
14 mar 2024, 18h00

Enquanto a temperatura global aumenta constantemente devido às mudanças climáticas, todo o ecossistema é afetado de alguma forma – mas algumas espécies, como parte das libélulas, possuem um tipo de proteção natural para suportar esse aquecimento.

Pesquisadores da Universidade do Colorado em Denver descobriram que algumas espécies de libélulas na América do Norte podem se proteger de altas temperaturas graças a uma espécie de “casaco” de cera que possuem. “Casaco” e “cera” não são exatamente as coisas que você imaginaria para se proteger do calor, mas no caso desses animais faz todo o sentido.

Na verdade, essa proteção não é exatamente um casaco. É uma mistura de hidrocarbonetos produzida pelos machos desses insetos chamada de polinosidade, que forma uma espécie de cobertura em seu exoesqueleto. Esse composto ceroso e brilhante protege os insetos contra os raios UV, resfriando o corpo e evitando a perda de água. 

Em ambientes mais secos e quentes, essa pode ser uma boa arma de sobrevivência. O mais curioso, entretanto, é que essa capa de cera que protege as libélulas do aquecimento global evoluiu como um comportamento voltado para o acasalamento.

Para entender, vamos voltar um pouco para o estudo. Os pesquisadores decidiram estudar dois tipos diferentes de libélulas: as que vivem empoleiradas ao redor de lagoas e as que vivem voando continuamente. 

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As libélulas macho do tipo poleiro, chamadas em inglês de percher, costumam ficar paradas em um único local, protegendo o território contra outros machos e, principalmente, à espreita de fêmeas. Como ficam grande parte do tempo parados expostos ao sol, essas espécies acabaram evoluindo para ter essa capa de cera para se proteger do calor e da desidratação.

Já os machos do tipo que voam constantemente (chamadas em inglês de flier – “voadoras”) não se expõem ao sol o tempo todo, e costumam ter pausas para se hidratar. 

Os pesquisadores analisaram 319 espécies de libélulas da América do Norte, e usando um modelo de computador puderam estudar sua linhagem evolutiva. A equipe conseguiu observar que a maioria das espécies de libélulas que se tornaram do tipo “flier” perderam sua capa de cera. 

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Além disso, os pesquisadores também criaram um banco de dados com mais de 387 mil registros geográficos de libélulas por todo o mundo. Analisando essas informações, eles viram que as espécies com a capa de polinosidade não só eram mais comuns em regiões secas e quentes, como as espécies sem a cera têm maiores chances de desaparecem dessas regiões.

“Não observamos esse efeito nas espécies que desenvolveram o polinosidade, por isso as espécies com cera [têm sido] basicamente indiferentes  às alterações climáticas nos Estados Unidos”, conta ao Science News Michael Moore, biólogo evolutivo da Universidade do Colorado em Denver e um dos líderes do estudo.

As libélulas não são os únicos insetos que possuem um super poder ecológico contra o aquecimento global. Uma espécie de cigarra africana possui uma habilidade de termorregulação de forma que elas aquecem 22º C a mais do que o ambiente quando cantam para o acasalamento.

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