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Caranguejo-ferradura: o “fóssil vivo” cujo sangue azul é importantíssimo para a medicina

Eles existem há 430 milhões de anos e são vitais para testes de vacina – mas a ação humana pode ser uma ameaça à sua existência.

Por Manuela Mourão
4 fev 2025, 12h00

Se o mundo acabasse hoje devido a algum desastre natural ou apocalipse nuclear, poucos animais restariam para contar história. O caranguejo-ferradura (Limulus polyphemus) seria um deles. A espécie é casca-grossa: já sobreviveu a cinco extinções em massa na Terra.

Apesar do nome, esses caranguejos não são realmente caranguejos. Nem sequer são crustáceos. Na verdade, são artrópodes, e seus parentes próximos são escorpiões e aranhas. Outro apelido conhecido desses bichos é “fóssil vivo”, já que são pelo menos 200 milhões de anos mais velhos que os dinossauros.

O caranguejo-ferradura possui um exoesqueleto em forma de uma concha lisa e dura, que tem o formato de uma ferradura, daí o nome. A causa longa (que lembra as observadas em arraias) funciona como um leme controla a direção do animal na água; em terra firme, ela tem a função de ajudar os caranguejos caso tombem na praia.

É um visual meio assustador, que parece ter saído de um filme de ficção científica. Mas não se intimide: eles não apresentam nenhum risco aos humanos – aliás, eles escolhem fugir toda vez que uma pessoa se aproxima. Para comer, o menu de preferência envolve uma variedade de vermes e invertebrados marinhos,  incluindo alguns peixes comercialmente importantes.

Esses caranguejos possuem sangue-azul. A cor vem do cobre (no nosso sangue, os átomos de ferro exercem a mesma função e geram a cor vermelha). O sangue desse animal coagula extremamente rápido quando entram em contato com toxinas bacterianas. É a única fonte natural do lisado amebócitos do limulus (LAL), a substância específica que detecta contaminantes conhecidos como endotoxinas (um tipo de bactéria).

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Cientistas e pesquisadores usam esse líquido para o teste de medicamentos intravenosos, vacinas e outros dispositivos médicos, para garantir que não exista nenhum contágio de bactérias (a presença de endotoxinas em vacinas pode ser fatal). Em 2020, o sangue foi usado incessantemente na corrida para a criação de uma vacina para o Covid-19. 

Importância ambiental – e ameaça humana

Para além do sangue azul, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) lista várias contribuições ecológicas dos caranguejos-ferradura. Com o depósito de milhões de ovos na parte rasa das praias, aves, peixes e outros animais selvagens garantem seus alimentos, e a reunião desses bichos por lá garante o alimento de mais tantos outros seres vivos. Além disso, a concha serve como micro-habitat para várias espécies como esponjas, caranguejos da lama, mexilhões e caracóis.

Porém, viver no mesmo período que humanos pode ser mais perigoso do que compartilhar o espaço e tempo com dinossauros (e que ficar preso com o casco para baixo e patas para cima). Os caranguejos são frequentemente usados como isca de pesca e prejudicados pela poluição, fora que arcam com as consequências do aquecimento global, como o aumento dos níveis dos oceanos. 

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Foto dos Caranguejos-ferradura desovando no final da primavera.
(bxzhit/Getty Images)

O uso medicinal do sangue azul também tem sido problemático. Milhares de caranguejos são capturados anualmente na costa atlântica dos Estados Unidos (lugar onde vão para reproduzir) e enviados para laboratórios, onde cerca de um terço de seu sangue é retirado. Depois, são devolvidos para a praia. Mas, por mais que alguns se mantenham vivos, até 30% deles não sobrevivem e muitas fêmeas têm problemas para procriar. 

Desde os anos 1975, as populações do caranguejo caíram em até 75%. Existe uma alternativa na engenharia bioquímica: em 1990, biólogos da Universidade de Singapura descobriram que era possível clonar uma molécula presente no sangue desses animais em laboratório, criando uma proteína chamada Fator C Recombinante, ou rFC.

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O único problema é que nem todos os governos aprovam o uso dos testes nessa alternativa, visto que alguns ingredientes sintéticos não são amplamente usados ou aprovados em todos os países.

O caranguejo-ferradura é vulnerável, mas ainda não está em perigo de extinção, com esforços para reduzir os danos durante a coleta de sangue ajudando algumas populações a se recuperar. Na Ásia, a perda de habitat e o aumento do nível do mar ameaçam a espécie, com o caranguejo-ferradura de três espinhos enfrentando extinções locais. Em 2019, grupos de conservação pediram proteções mais fortes e mais pesquisas. Há esperança de, eventualmente, eliminar o uso de sangue de caranguejo.

Foto de coleta de sangue azul dos caranguejos-ferradura
(Business Insider via Youtube/Reprodução)
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