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Brasileiro vence o concurso “Dance seu Doutorado” com pesquisa sobre cangurus

Em seu vídeo, o pesquisador-cantor Weli usa funk, ballet e outras danças para mostrar que esses marsupiais têm sua própria personalidade, mas também imitam os modos do resto do grupo.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 22 mar 2024, 19h37 - Publicado em 22 mar 2024, 19h00

Todo ano, a revista Science promove um concurso inusitado: cientistas explicam suas pesquisas de doutorado dançando.

O Dance your PhD (ou “Dance seu PhD”, em português), é uma competição internacional que acontece desde 2008, em que acadêmicos ao redor do mundo mostram que são tão bons nos passos quanto nos artigos.

Em 2024, pela primeira vez, o grande premiado foi um brasileiro. Weliton Menário Costa, mais conhecido como Weli, concluiu seu doutorado em 2021 na Universidade Nacional Australiana. 

Em sua pesquisa, Costa estudou o comportamento de mais de 300 cangurus-cinzas orientais (Macropus giganteus) que vivem no Parque Nacional Wilsons Promontory.

Costa descobriu que cada canguru tem uma personalidade diferente, que é desenvolvida logo cedo na vida, por influência de sua mãe e seus irmãos.

Alguns animais são mais ousados e curiosos, enquanto outros têm mais medo e não se aproximam tanto de coisas novas, como carrinhos de controle remoto e pessoas. 

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Essas personalidades não são definitivas. Cangurus são animais muito sociais, e portanto, são influenciados a agir de forma semelhante aos colegas que estão próximos. 

Assim como você não vai se comportar com um seus avós da mesma forma que se comporta com seus amigos de escola, os cangurus ajustam seus modos para se adequar a cada situação. 

Eles priorizam a semelhança com o grupo, colocando-a acima de seus traços de personalidade individuais. Por exemplo: em um bando mais corajoso, cangurus medrosos podem acabar indo com o fluxo, contrariando o desejo de dar no pé.

Tudo isso é mostrado com clareza na dança apresentada por Weli. Em seu vídeo, o pesquisador está ao lado de drag queens, bailarinas, dançarinas indianas, sambistas… Cada personagem tem seu estilo de dança próprio.

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Conforme os grupos se misturam, os dançarinos adaptam seus passos aos colegas que estão em torno deles, até alcançarem coreografias unificadas. 

“Eu queria mostrar a diversidade do comportamento dos cangurus, e a maneira mais fácil era mostrar a diversidade de danças que temos. Não teve coreografia, eles estavam apenas sendo eles mesmos”, afirma Weli à Science.

A única instrução era fazer como os animais: adaptar seu estilo pessoal para que se assemelhasse ao dos dançarinos ao redor.

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O painel de jurados, que incluia artistas, dançarinos e cientistas, elogiou o fato de que todos os envolvidos estavam se divertindo no processo. Outros pontos destacados foram os figurinos e a canção original – Weli compôs a música, intitulada “Kangoroo Time”. 

Para Weli, essa também foi uma forma de traduzir sua pesquisa acadêmica de um jeito fácil e acessível para seus amigos e familiares de Ribeirão do Meio, uma comunidade na zona rural da pequena Conceição do Castelo, no Espírito Santo – uma cidade com 12 mil habitantes.

Muitos deles não entendiam completamente o que ele estava fazendo na Austrália. Segundo ele, depois do vídeo, até sua avó conseguiu entender o que o neto fazia da vida.

“Minha avó agora consegue entender do que se trata minha pesquisa”, diz Weli em um comunicado da Universidade Nacional Australiana. “Acho incrível poder condensar anos de pesquisa e vários trabalhos acadêmicos em um vídeo acessível, informativo e, acima de tudo, divertido.

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Além de encontrar uma forma simples de ensinar sua pesquisa aos espectadores por meio da dança e da música, o pesquisador espera transmitir a mensagem de que a diversidade – em todas as suas formas – deve ser celebrada.

“Os cangurus são diferentes, assim como nós”, diz ele. “As diferenças acontecem em todas as espécies, e elas levam à diversidade – é isso que torna a ciência, a arte e as comunidades excelentes.”

O prêmio é dividido em quatro categorias: ciências sociais, biologia, química e física – além de física quântica ou inteligência artificial, uma quinta categoria especial, criada por causa da parceria do prêmio com a empresa de tecnologia SandboxAQ.

O vencedor de cada categoria tradicional leva U$ 750 (R$ 3,7 mil reais) para casa. Além disso, o vencedor geral ganha um adicional de US$ 2 mil (cerca de R$ 10 mil reais).

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Os outros três vídeos vencedores deste ano eram sobre a forma como a adversidade no início da vida pode afetar o funcionamento dos genes (Siena Dumas Ang, Universidade de Princeton), um tratamento de perda de neurônios que mirava uma proteína do ciclo circadiano (Xuebing Zhang, Universidade da Cidade de Honk Kong) e a erosão nas margens dos rios (Layla El-Khoury, Universidade Estadual da Carolina do Norte).

Você pode conferir todos eles clicando nos nomes de cada cientista.

E vale dizer: o cientista-cantor já tem seu primeiro EP no Spotify, chamado “Yours Academically, Dr. WELI“. E é óbvio que “Kangaroo Time” é uma das faixas.

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