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Biobanco vai armazenar 800 espécies de corais para restaurar recifes no futuro

Projeto australiano quer preservar espécies em meio a morte massiva de corais devido o aquecimento global.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 28 out 2020, 18h42 - Publicado em 28 out 2020, 18h41

Biólogos australianos pretendem construir um reservatório para armazenar até 800 espécies de corais a longo prazo, com o objetivo de restaurar recifes no futuro caso necessário. A iniciativa surgiu de preocupações crescentes com a devastação dos ecossistemas marinhos devido ao aquecimento global, à poluição e a outros impactos da humanidade.

Apelidado de “arca dos corais” pelos pesquisadores, em referência à Arca de Noé, o Living Coral Biobank se inspira no Silo Global de Sementes de Svalbard, um reservatório de sementes na Noruega para replantar espécies de plantas em um eventual cenário de extinção em massa. Diferentemente do seu primo ártico, o prédio australiano também contará com laboratórios para pesquisa e funcionará até como um aquário para visitação de turistas na cidade de Port Douglas, no estado de Queensland.

O local escolhido não foi aleatório: ele fica próximo à Grande Barreira de Corais, o maior recife de corais do mundo, conhecido por abrigar grande biodiversidade e considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Mas, nos últimos anos, o enorme e diverso ecossistema tem sofrido perdas consideráveis: um estudo recente mostrou que metade dos corais da Barreira morreu desde 1995 devido ao aumento das temperaturas oceânicas, que resultaram em eventos de branqueamento em massa dos corais. (“Branqueamento” é o processo de morte de um coral, em que as algas coloridas em sua superfície são eliminadas e sobra apenas o esqueleto de calcário esbranquiçado.)

Embora sistemas de corais consigam se recuperar caso as condições voltem a ser favoráveis, há a preocupação de que muitas espécies possam ser extintas definitivamente caso as temperaturas continuem aumentando. Por isso a organização sem fins lucrativos Great Barrier Reef Legacy iniciou o projeto de construir o biobanco para armazenar as espécies mais vulneráveis, com o intuito de mantê-las se reproduzindo em laboratório para, se necessário, reintroduzi-la na natureza no futuro. Mas os pesquisadores garantem que isso só será posto em prática no pior dos cenários, em que todas as outras medidas de conservação falhem, e que não substitui esforços para impedir que o problema chegue a esse ponto.

Até o momento, o projeto já arrecadou US$ 4,8 milhões por meio de parcerias com empresas e outras organizações, segundo informações do jornal britânico The Guardian, mas ainda busca outras fontes de financiamento. Mesmo que a construção do local ainda não tenha começado, a equipe de pesquisadores já vai iniciar a coleta de espécies na próxima semana: 20 corais diferentes deverão ser armazenados temporariamente em aquários parceiros até que o biobanco esteja construído. O objetivo é que mais de 800 espécies de corais estejam armazenadas no reservatório até 2025, segundo os cientistas, e não apenas da Grande Barreira australiana, mas do mundo todo.

A ideia é que os corais continuem a se reproduzir enquanto armazenados. Corais podem se reproduzir tanto sexuadamente como assexuadamente (nesse último caso, eles criam clones de si mesmos), e, enquanto houver condições favoráveis, os recifes continuam a crescer. Com isso, o projeto espera que o biobanco dobre sua coleção de corais a cada seis meses, anunciaram os cientistas.

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