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Baleias orcas também passam pela menopausa

Na natureza, o fato é raro: em poucas espécies a fêmea vive além de sua capacidade reprodutiva

Por Bruno Vaiano
20 jan 2017, 18h32

É inevitável: quando acaba o estoque de óvulos de uma mulher, ela para de menstruar e chega à menopausa, conhecida por sintomas como ondas de calor e pela diminuição gradual da produção do hormônio estrógeno pelos ovários.

Esse estágio natural da vida humana é muito raro na natureza. Quase nenhuma outra espécie do reino animal têm fêmeas que vivem além do fim de sua capacidade reprodutiva. As exceções são duas espécies de baleia: a inesquecível orca, que na verdade é um tipo de golfinho, e a baleia-piloto-de-aleta-curta (cujo nome corrente só não é mais difícil que o nome científico, Globicephala macrorhynchus). Agora, um grupo de pesquisadores liderado pelo especialista em comportamento animal Darren Croft, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, descobriu porque essas baleias dividem um processo tão peculiar conosco. E a explicação pode jogar uma nova luz sobre o que acontece no corpo de uma mulher de 50 anos.

De maneira muito semelhante a nossa, as orcas se tornam férteis aos 15 anos e param de se reproduzir por volta dos 40. Muitas delas, porém, vivem até os 90, ou seja: passam uma parcela considerável de suas vidas sem se reproduzir. Do ponto de vista da evolução natural, isso é bem difícil de engolir. Afinal, qualquer mutação genética que aumentasse o “tempo útil” dos ovários das orcas aumentaria também sua capacidade de distribuir bebês com essa genética vantajosa mar adentro — jogando para cima, por consequência, a duração média do período reprodutivo dessas baleias.

Ou seja: há algo na vida desses mamíferos que torna melhor, para sua sobrevivência, encerrar as atividades mais cedo. Analisando quatro décadas de dados, Croft percebeu que quando orcas mais velhas procriam ao mesmo tempo que as mais jovens, os filhotes das fêmeas mais maduras têm quase duas vezes mais chances de morrer nos primeiros 15 anos de vida. E isso não tem a ver com os riscos médicos naturais de uma gravidez tardia.

Grupos de orcas são matriarcais. Os pais, depois da cópula, não ficam no pedaço para conhecer seus filhotes, que são criados exclusivamente pelas mães. Isso significa que uma fêmea só terá contato com o sexo oposto após os 15 anos, distância que a torna resistente à presença masculina. Na hora de criar os filhos, ela acaba sendo mais egoísta, e em vez de dividir comida com o grupo, concentra todas as suas forças em proteger e alimentar a própria cria. As orcas mais velhas, por outro lado, mais sociáveis e acostumadas aos machos do grupo — que incluem os próprios filhos — são por consequência mais liberais, e aliviam a barra dos filhotes, tornando-os mais vulneráveis.

Ao New York Times, Croft afirma que há grandes chances de que algum tipo de conflito reprodutivo também seja a explicação para a menopausa humana. Uma outra teoria muito difundida — a de que seria mais vantajoso para avós protegerem seus netos e garantir a transmissão de seus genes — não é levada tão a sério pela equipe britânica. “Os benefícios de criar os netos, que carregam só um quarto de nossos genes, são pequenos demais em comparação aos benefícios de ter os próprios filhos”, afirmou Michael Kant, co-autor do artigo, ao jornal americano. “Não dá para olhar só para os ganhos, mas também para os custos de deixar de se reproduzir.”

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