Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Astrônomos encontram indícios de um Tatooine da vida real

Asteróides em volta de estrela binária sugerem a existência de um planeta rochoso com dois sóis, como o de Star Wars  

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 mar 2017, 00h23 - Publicado em 2 mar 2017, 17h48

O espaço sideral foi moldado à imagem e semelhança daquela música do Nando Reis: metade das estrelas que você vê no céu consiste, na verdade, de duas estrelas, uma orbitando em volta da outra. “Segundos sóis”, portanto, são incrivelmente comuns Cosmos adentro. Por essas, a maior parte dos planetas extra-solares já descobertos até agora orbitam mesmo dois sóis.

Mesmo assim, nenhum deles é como o Tatooine, de Star Wars. Tatooine é um planeta da mesma estirpe da Terra, feito de rochas, mas que orbita duas estrelas. O problema: tudo o que os astrônomos encontraram até hoje bailando ao redor de estrelas binárias são planetas gasosos – como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, que podem ser grandes e bonitos, mas não passam de balões de gás, sem a complexidade de um planeta rochoso.

Só que isso pode mudar. Astrônomos do University College of London acabaram de descobrir vestígios de que, sim, estrelas binárias podem abrigar planetas como o nosso. Antes de seguirmos falando sobre a descoberta, porém, vale mostrar por que é que estrelas binárias não costumam abrigar planetas quentes, rochosos e confortáveis como o nosso. E para apresentar isso, precisamos recapitular a história do nosso próprio sistema solar. Aqui:

1) Há mais ou menos 5 bilhões de anos uma nuvem de gás e poeira se juntou num canto, a 28 milhões de anos-luz do centro da Via Láctea. A atração gravitacional entre as partículas foi apertando esse nevoeiro cósmico cada vez mais. Conforme a densidade dele aumentava, mais rápido ele girava.

2) A velocidade da rotação fez a nuvem ficar mais e mais contraída, até se transformar num disco achatado, com a cara de minigaláxia. Lá no meio, a matéria ficou tão espremida que os átomos começaram se fundir uns aos outros, liberando uma quantidade descomunal de luz e calor.  Foi o parto do nosso amigo Sol, há 4,6 bilhões de anos

Continua após a publicidade

3) A força da “ignição” do Sol jogou para longe os átomos mais leves (caso do hidrogênio, o menor de todos, e que compõe quase 90% de todos os átomos que existem). O grosso do hidrogênio, e de outros gases leves, como o hélio,  acabaram expulsos para os confins gelados do Sistema. Já os átomos pesados – tipo os de ferro e silício, que formam as rochas, resistiram melhor à explosão, não foram lançados tão para longe, e hoje repousam numa área mais quentinha do Sistema. Esse ferro e esse silício foi se juntando na forma de asteroides. E os asteroides se uniram na forma de uma pedra ainda maior, que hoje chamamos de “Terra”.

Bom, se o Sol tivesse nascido com um irmão gêmeo, formando uma estrela binária, a história poderia ser bem diferente. A gravidade das duas estrelas seria tão poderosa que não deixaria os átomos de ferro e de silício se unir na forma de planetas. Talvez nem na de asteroides. E tudo o que teríamos seria um sistema só com os gigantes gasosos, que são grandes justamente por serem gasosos – como há muito hidrogênio por aí, esses planetas ganharam suas cinturais descomunais – a Terra mesmo caberia inteira naquela manchinha vermelha de Júpiter:

Jupiter
É como se a Terra fosse uma bolinha de gude, e Júpiter, um disco do Tom Zé ()
Continua após a publicidade

O ponto é que a existência de um planeta como Tatooine, rochoso e com dois sóis, sempre foi vista como uma aberração científica. Mas só até agora. É que os pesquisadores britânicos, liderados pelo astrônomo Jay Farihi, encontraram asteroides em volta de um sistema binário, o SDSS 1557, a mil anos-luz daqui (não muito perto, não muito longe – dá mais ou menos a distância daqui até as Três Marias).

A maior estrela do sistema é uma anã-branca, com 45% da massa do Sol; a outra é uma anã-marrom, um tipo de astro com diâmetro algumas dezenas de vezes maior que o de Júpiter e com algum brilho próprio, ainda que tímido – na prática, trata-se de um meio-termo entre um gigante gasoso e uma estrela de fato. Tanto que na concepção artística aqui embaixo desenharam a anã-marrom realmente como um Júpiter gigante (o que é só um chute, já que os nossos telescópios não têm como observá-la com nitidez).

Este planeta recém-descoberto pode ser o Tatooine da vida real
A anã-branca, à esquerda; a anã-marrom, à direita, e, em primeiro plano, os asteróides (Mark Garlick, UCL, UNIVERSITY OF WARWICK AND UNIVERSITY OF SHEFFIELD)
Continua após a publicidade

Seja como for, trata-se de um sistema binário genuíno. E mais importante: os asteroides podem ser um planeta em formação. Isso indicaria que pares de estrelas podem, sim, abrigar planetas como o nosso.

Se for isso mesmo, a mensagem mais importante que você pode deixar para os seus tataranetos, antes de eles partirem para aventuras interestelares, é: “Não esqueçam o filtro solar”.

 

 

 

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.