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Asteroide que extinguiu dinossauros causou 500 dias de escuridão

Simulação revela que, após o impacto, 15 milhões de toneladas de fuligem cobriram o Sol por mais de um ano, arruinando a fotossíntese

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 ago 2017, 15h37 - Publicado em 22 ago 2017, 15h34

O resumo dessa história você está careca de saber. Há 66 milhões de anos, um asteroide de 10 quilômetros caiu na península de Yucatán, no atual território do México, e acabou de um só golpe com um grupo de espécies que, na época, dominava a Terra há mais ou menos 170 milhões de anos: os dinossauros.

A notícia é que agora sabemos mais detalhes do que nunca sobre essa pancada homérica. Em um artigo científico publicado segunda (21), cientistas usam simulações de computador para recriar as consequências climáticas do evento – revelando os “requintes de crueldade” da extinção em massa que, em última instância, abriu espaço para que mamíferos como nós tomassem conta do planeta.

Tudo começou com calor. Muito calor. Um bólido de dez quilômetros faz tanto estrago que uma quantidade considerável de rocha vira vapor quase instantaneamente.

Sim, vapor. Rochas, embora não pareça, também têm um estado líquido e um estado gasoso. O estado líquido não é tão raro assim: você pode observá-lo no interior de um vulcão, de preferência em um dia em que ele não esteja em erupção. Já o gasoso só surge em condições inimagináveis de pressão e temperatura – como uma pancada cósmica desse calibre.

Esse calor todo, é claro, não dura para sempre. O vapor de rocha, aquecido, sobe. Quando alcança as camadas mais altas da atmosfera, esfria e volta ao estado sólido, dando origem às esférulas: bolinhas de rocha recém-solidificada que caem feito chuva sobre o planeta.

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Durante a queda, o atrito com o ar aquece essas partículas – que atingem a superfície em quantidade e temperatura suficientes para causar incêndios florestais de grandes proporções.

Daí em diante, a noite foi uma criança. Para ser mais preciso, uma interminável criança de um ano e meio. Com quase toda a área verde da Terra em chamas, 15 milhões de toneladas de fuligem bloquearam a luz do Sol por mais de 500 dias. A temperatura média, na superfície, caiu 28ºC – nos oceanos, foram “só” 11ºC.

Sem matéria-prima para a fotossíntese, as poucas plantas que haviam sobrevivido à chuva de fogo pereceram – matando, por tabela, os herbívoros que se alimentavam delas e os carnívoros que se alimentavam desses herbívoros. Desequilíbrio ecológico elevado à enésima potência.

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Outro problema é que, ao longo desses meses de escuridão, o calor que não alcançou a superfície ficou retido pela fuligem na metade mais alta da estratosfera. É justamente ali que fica nosso escudo natural contra a radiação ultravioleta – a camada de ozônio, que se desfaz com facilidade em temperaturas mais altas.

Quando o céu finalmente abriu, as emissões UV passaram reto pelo nosso “protetor solar” atmosférico enfraquecido – incidindo diretamente sobre a superfície e ceifando os poucos sobreviventes do segundo round do apocalipse. Ao fim desse período, cerca de três quartos das espécies do planeta haviam desaparecido.

“A extinção de muitos dos grandes animais terrestres pode até ter sido causada pelos efeitos imediatos do impacto, mas os animais que viviam nos oceanos ou que podiam se esconder no subterrâneo podem ter sobrevivido”, explicou em anúncio à imprensa Charles Bardeen, líder do estudo. “Nossa pesquisa pega a história depois dos tsunamis, terremotos e altas temperaturas. Nós queríamos dar uma olhada nas consequências mais duradouras da quantidade de fuligem que foi gerada e como isso impactou a vida dos animais que sobreviveram.”

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Bardeen e os demais pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR) dos EUA contaram com apoio da NASA para criar essas simulações – que levaram a limites inéditos as ferramentas usadas para fazer a previsão do tempo em situações bem, bem mais mundanas. “Uma colisão de asteroide é uma perturbação muito grande – não é o tipo de coisa que se vê ao se modelar cenários climáticos futuros. O modelo não foi criado para lidar com isso, então precisamos ajustá-lo para que ele pudesse lidar com coisas como o aquecimento da estratosfera em 200ºC.”

Descrições detalhadas desses processos não rendem só roteiros de filme do Michael Bay como o que você acabou de ler. Eles também são ferramentas essenciais para a biologia evolutiva, que pode entender melhor como e porque certas espécies sobreviveram a esses eventos – caso de alguns dinossauros terópodas, que chegaram à nossa época na forma de… pássaros.

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