As asas de algumas corujas brilham na luz negra para passar mensagens secretas
O recado é só para outras corujas: humanos e predadores não enxergam os comprimentos de onda necessários para ver esses ornamentos.

As aves são um grupo encantador e muito variado de animais. Não à toa, elas reunem admiradores em todo o mundo, fascinados com as diferentes estratégias adaptativas, como o canto, as danças do acasalamento, e, é claro, as plumagens coloridas. Uma das propriedades mais fascinantes desses animais, porém, escapa aos olhos.
É o que aponta um artigo publicado em março na revista acadêmica The Wilson Journal of Ornithology. Os pesquisadores descobriram que uma espécie de coruja tem pigmentos fluorescentes nas penas das asas. Em condições normais, as cores são invisíveis para humanos e muitos outros mamíferos, mas podem ser enxergadas por outras colegas corujas.
A espécie de coruja em questão é a Asio otus, nativa da Europa e da América do Norte e conhecida em português como coruja-pequena ou bufo-pequeno. Sua envergadura é de entre 86 e 98 centímetros, mas nem todas as asas brilham da mesma forma.

A pesquisa analisou como a fluorescência varia entre indivíduos que migraram pela Península Superior de Michigan, nos EUA, na primavera de 2020. Entender quais grupos brilham mais ou menos pode ajudar os cientistas a decifrarem por que essa característica existe em primeiro lugar.
Os olhos da coruja podem detectar essa fluorescência magenta – emitida por pigmentos fotossensíveis chamados porfirinas, da palavra grega para púrpura – mesmo sem o auxílio de uma luz UV (ou luz negra), assim como outras aves com a capacidade de enxergar no espectro ultravioleta.
Os pesquisadores acreditam que esse é o pulo do gato: a coloração vibrante é vista por outras corujas, mas não atrapalha a sutil camuflagem que elas usam para se protegerem dos predadores.
Em muitas espécies de aves, os machos têm plumagens mais coloridas para atrair as fêmeas, mas os pesquisadores não acham que esse seja o caso da corujinha fluorescente.
“Nosso estudo mostra que as corujas de orelhas longas fêmeas têm uma concentração muito maior desses pigmentos em suas penas, desafiando um equívoco comum de que a plumagem colorida é uma característica masculina”, disse, em comunicado, Emily Griffith, doutoranda em ornitologia responsável pela pesquisa.
“A quantidade de pigmentos fluorescentes nessas corujas existe em um espectro, relacionada ao tamanho, à idade e ao sexo juntos.”
A fotossensibilidade das porfirinas não apenas faz com que as penas brilhem, mas também faz com que se degradem com a exposição contínua à luz solar. Por isso, a fluorescência geralmente desaparece com a idade das penas, que são constantemente substituídas.
Griffith utilizou um fluorímetro, um dispositivo de laboratório que mede parâmetros da fluorescência para comparar os diferentes indivíduos.
“Sabe-se muito pouco sobre os pigmentos fluorescentes nas penas das aves e as corujas não são as únicas com pigmentos fluorescentes”, disse Griffith. “Portanto, este é um momento realmente empolgante para quem está interessado em estudar a plumagem das aves.”