Antártida vai soltar um iceberg do tamanho de Brasília
A nova montanha de gelo deve nascer nos próximos dois meses. Se o parto for turbulento, o nível do mar pode aumentar alguns centímetros
Em apenas dois meses, a rachadura na plataforma Larsen C, na Antártida, cresceu 27 quilômetros – desde dezembro, ela avançou quase cinco campos de futebol por dia. A ruptura, que deve acontecer nos próximos meses, vai criar um dos maiores icebergs já vistos no mundo, com 5.000 km² (área equivalente à do Distrito Federal). Até agora, apenas 20 quilômetros de faixa de gelo impedem que o imenso bloco se solte da plataforma.
De acordo com pesquisadores britânicos do projeto Midas, que monitora a fenda desde 2014, a área em que a rachadura se encontra já está vulnerável ao aquecimento gradual de temperaturas, o que acelera o processo de desprendimento. O fenômeno, segundo eles, vai mudar drasticamente o cenário da Antártida.
O bloco de gelo sozinho não vai causar aumento no nível do mar, uma vez que flutuará nos arredores gélidos da Antártida, sem derreter. A grande preocupação dos cientistas é que rupturas futuras, decorrentes do desprendimento, podem levar ao descongelamento de geleiras. E isso poderia, sim, elevar o nível do mar. Estimativas do estudo apontam que na (improvável) hipóteses de toda a plataforma Larsen C derreter, o nível dos oceanos poderia aumentar em até 10 centímetros.
Reação em cadeia
As plataformas ficam sobre o mar nas extremidades das geleiras e têm centenas de metros de espessura. Como não estão na terra, podem se soltar e flutuar nos oceanos gelados. Pesquisadores acreditam que a perda desses blocos de gelo ao redor do continente pode, futuramente, permitir que geleiras internas se movam em direção ao mar à medida que as temperaturas aumentam no planeta.
Em 2002, quando Larsen B se rompeu, algo semelhante aconteceu e terminou em um colapso da plataforma. “Nossos modelos indicam que a plataforma ficará menos estável, mas não que desmoronará imediatamente ou qualquer coisa do tipo”, explicou Adrian Luckman, um dos líderes da pesquisa, à BBC. “Ainda que o impacto imediato não atinja os mares, trata-se de um grande evento geográfico que mudará a paisagem do continente gelado”, pontuou.